Pep Talk 2008: Nancy Etchemendy
Introdução
O QG do NaNoWrimo presenteou os participantes em 2008 com 9 mensagens de escritores consagrados, os famosos Pep Talks ("conversas estimulantes" ou orientações da equipe de apoio para que um concorrente se saia bem na disputa), com dicas para vencer obstáculos na escrita, abusando da criatividade e profissionalismo para levantar o astral dos aspirantes a escritor. O ebook com os Pep Talks de seis anos anteriores - 80 páginas em PDF - é vendido no site do NaNoWrimo mas, como participei (e venci) este ano, vou traduzir e postar todas que recebi. Os posts serão em dezembro, nos mesmos dias em que foram enviadas por email, originalmente, em novembro. Como não sou tradutor profissional, apesar da boa intenção e esmero, podem aparecer erros e agradeço a quem sugerir correções. A ordem dos Pep Talks será:
Tradução (por Jefferson Luiz Maleski)
O Banheiro e o Atum
Oi Escritores!
É um dia escuro e sombrio. Se os pássaros estão cantando, você não pode imaginar o porquê, e você deseja que eles parem. Você começou uma caminhada. E parou para uma soneca. Apontou todos os seus lápis, embora não escreva com um lápis desde o primário. Fez um copo de algo quente para beber, mas agora ele está frio. É desse jeito ao verificar o seu e-mail, a sua página no MySpace, e os sites da internet "que você não sabia que existiam mas que não pode mais viver sem eles". Você corta as unhas do pé. Escova o seu cachorro. E assim, você não consegue convencer a si mesmo a abrir o assustador arquivo que contém o seu romance e colocar os dedos no teclado.
PARE.
Você veio ao lugar certo. O pessoal do NaNoWriMo, em sua sabedoria, tem fornecido um apanhado de Pep Talks. Por que você acha que eles teriam tanto trabalho? A resposta é simples: porque você tem vários companheiros, inclusive eu. Escrever um romance é difícil. Em algum ponto do processo, a maioria dos romancistas fica atolada na lama, e é perfeitamente normal. Na verdade, era de se esperar.
Ok, agora você sabe que não está sozinho. Isso é um alívio. Mas a tarefa de escrever do seu jeito um livro completo agiganta-se diante de você como as montanhas da lua, escuras e misteriosas, e muito, muito altas. Tão altas, na verdade, que uma voz sussurra um novo medo. Talvez você morra antes de chegar lá, então por que não parar agora?
Simples. Porque você quer ser um romancista. A diferença entre um romancista e alguém que picha palavras ao redor é esta: os romancistas terminam os seus livros.
Tudo bem, você diz. Mas como? Como você pode terminar quando tem certeza de que tudo o que escreveu até agora é um lixo total, e você não tem idéia para onde está indo, e cada vez que você olha aquele troço, você desesperadamente quer ir fazer outra coisa?
Primeiro, vamos ver a questão se você está escrevendo algo que pertence à lata de lixo. O que está trabalhando agora é um primeiro projeto. Além disso, você deliberadamente está escrevendo mais rápido, o que o torna o primeiro esboço bruto. Ele não vai ser nem de perto publicável, e você não deveria esperar que ele fosse. Eu ouvi ou li em algum lugar a observação de um talentoso jovem romancista cujo nome me escapa agora, pelo qual peço desculpas. Ele disse que o primeiro projeto é como um pedaço de mármore. É um grande bloco sem forma. Depois, você corta os pedaços desnecessários, e transforma o que restou em algo lindo. A Pietá de Michelangelo era um bloco disforme, e a maior parte dele acabou como poeira no chão do seu estúdio. Como você escreve, dê a você mesmo permissão para criar esse bloco sem forma - o primeiro projeto necessário a partir do qual um livro maravilhoso pode aparecer.
Em segundo lugar, sobre você não saber onde está indo. Isto vai soar intuitivo e talvez totalmente louco: não se preocupe com isso. Pense em seu quotidiano como um cavaleiro perdido montado em um poderoso cavalo preto. O cavaleiro pode estar em pânico. Isso é compreensível. É assustador estar perdido. Mas o seu quotidiano não é quem cria a primeira versão. A primeira versão foi escrita pelo grande cavalo preto – sua mente subconsciente. Esse cavalo é inteligente, e sabe exatamente onde está indo. Somente confie nele. Ela vai te levar para casa. Basta escrever. Anote não importa como se sinta, mesmo que não faça sentido para você. Não pense muito sobre isso, não segure as rédeas muito apertadas, e em breve você verá o seu caminho de novo.
Em terceiro lugar, quanto ao desejo desesperado de ir fazer outra coisa. Todo escritor tem de lidar com isso. Quando o trabalho não vai bem, o mundo está repleto de convidativas distrações. A grande romancista e ensaísta Cynthia Ozick disse, "Um bom cidadão escritor vai abaixar a sua caneta por um pudim bobo." Não tenho certeza sobre a parte do bom cidadão, mas cada escritor que conheço é tentado a abaixar a sua caneta centenas de vezes durante um dia de escrita. Que tipo de pássaro é aquele, cantando na árvore lá fora? O tio Harvey ainda não respondeu o seu e-mail? Será que você não estaria contribuindo mais para o mundo se estivesse limpando o banheiro ou comendo um sanduíche de atum?
Não, caro romancista, você não estaria. O pássaro vai esperar. Tio Harvey vai esperar. O banheiro e o atum vão esperar. Você tem algo importante a dizer, e você está dizendo. Essa é a sua contribuição, sem a qual o mundo seria um lugar mais pobre, e é algo que só você pode fazer.
Agora, escreva!
Nancy
Leia tudo sobre o Nancy em seu website.
Leia também o texto original em inglês.
O QG do NaNoWrimo presenteou os participantes em 2008 com 9 mensagens de escritores consagrados, os famosos Pep Talks ("conversas estimulantes" ou orientações da equipe de apoio para que um concorrente se saia bem na disputa), com dicas para vencer obstáculos na escrita, abusando da criatividade e profissionalismo para levantar o astral dos aspirantes a escritor. O ebook com os Pep Talks de seis anos anteriores - 80 páginas em PDF - é vendido no site do NaNoWrimo mas, como participei (e venci) este ano, vou traduzir e postar todas que recebi. Os posts serão em dezembro, nos mesmos dias em que foram enviadas por email, originalmente, em novembro. Como não sou tradutor profissional, apesar da boa intenção e esmero, podem aparecer erros e agradeço a quem sugerir correções. A ordem dos Pep Talks será:
- Jonathan Stroud (dia 5)
- Philip Pullman (dia 7)
- Katherine Paterson (dia 12)
- Meg Cabot (dia 14)
- Janet Fitch (dia 20)
- Gayle Brandeis (dia 22)
- Nancy Etchemendy (dia 25)
- Piers Anthony (dia 30)
- Kelley Armstrong (dia 3 - post-event)
Tradução (por Jefferson Luiz Maleski)
O Banheiro e o Atum
Oi Escritores!
É um dia escuro e sombrio. Se os pássaros estão cantando, você não pode imaginar o porquê, e você deseja que eles parem. Você começou uma caminhada. E parou para uma soneca. Apontou todos os seus lápis, embora não escreva com um lápis desde o primário. Fez um copo de algo quente para beber, mas agora ele está frio. É desse jeito ao verificar o seu e-mail, a sua página no MySpace, e os sites da internet "que você não sabia que existiam mas que não pode mais viver sem eles". Você corta as unhas do pé. Escova o seu cachorro. E assim, você não consegue convencer a si mesmo a abrir o assustador arquivo que contém o seu romance e colocar os dedos no teclado.
PARE.
Você veio ao lugar certo. O pessoal do NaNoWriMo, em sua sabedoria, tem fornecido um apanhado de Pep Talks. Por que você acha que eles teriam tanto trabalho? A resposta é simples: porque você tem vários companheiros, inclusive eu. Escrever um romance é difícil. Em algum ponto do processo, a maioria dos romancistas fica atolada na lama, e é perfeitamente normal. Na verdade, era de se esperar.
Ok, agora você sabe que não está sozinho. Isso é um alívio. Mas a tarefa de escrever do seu jeito um livro completo agiganta-se diante de você como as montanhas da lua, escuras e misteriosas, e muito, muito altas. Tão altas, na verdade, que uma voz sussurra um novo medo. Talvez você morra antes de chegar lá, então por que não parar agora?
Simples. Porque você quer ser um romancista. A diferença entre um romancista e alguém que picha palavras ao redor é esta: os romancistas terminam os seus livros.
Tudo bem, você diz. Mas como? Como você pode terminar quando tem certeza de que tudo o que escreveu até agora é um lixo total, e você não tem idéia para onde está indo, e cada vez que você olha aquele troço, você desesperadamente quer ir fazer outra coisa?
Primeiro, vamos ver a questão se você está escrevendo algo que pertence à lata de lixo. O que está trabalhando agora é um primeiro projeto. Além disso, você deliberadamente está escrevendo mais rápido, o que o torna o primeiro esboço bruto. Ele não vai ser nem de perto publicável, e você não deveria esperar que ele fosse. Eu ouvi ou li em algum lugar a observação de um talentoso jovem romancista cujo nome me escapa agora, pelo qual peço desculpas. Ele disse que o primeiro projeto é como um pedaço de mármore. É um grande bloco sem forma. Depois, você corta os pedaços desnecessários, e transforma o que restou em algo lindo. A Pietá de Michelangelo era um bloco disforme, e a maior parte dele acabou como poeira no chão do seu estúdio. Como você escreve, dê a você mesmo permissão para criar esse bloco sem forma - o primeiro projeto necessário a partir do qual um livro maravilhoso pode aparecer.
Em segundo lugar, sobre você não saber onde está indo. Isto vai soar intuitivo e talvez totalmente louco: não se preocupe com isso. Pense em seu quotidiano como um cavaleiro perdido montado em um poderoso cavalo preto. O cavaleiro pode estar em pânico. Isso é compreensível. É assustador estar perdido. Mas o seu quotidiano não é quem cria a primeira versão. A primeira versão foi escrita pelo grande cavalo preto – sua mente subconsciente. Esse cavalo é inteligente, e sabe exatamente onde está indo. Somente confie nele. Ela vai te levar para casa. Basta escrever. Anote não importa como se sinta, mesmo que não faça sentido para você. Não pense muito sobre isso, não segure as rédeas muito apertadas, e em breve você verá o seu caminho de novo.
Em terceiro lugar, quanto ao desejo desesperado de ir fazer outra coisa. Todo escritor tem de lidar com isso. Quando o trabalho não vai bem, o mundo está repleto de convidativas distrações. A grande romancista e ensaísta Cynthia Ozick disse, "Um bom cidadão escritor vai abaixar a sua caneta por um pudim bobo." Não tenho certeza sobre a parte do bom cidadão, mas cada escritor que conheço é tentado a abaixar a sua caneta centenas de vezes durante um dia de escrita. Que tipo de pássaro é aquele, cantando na árvore lá fora? O tio Harvey ainda não respondeu o seu e-mail? Será que você não estaria contribuindo mais para o mundo se estivesse limpando o banheiro ou comendo um sanduíche de atum?
Não, caro romancista, você não estaria. O pássaro vai esperar. Tio Harvey vai esperar. O banheiro e o atum vão esperar. Você tem algo importante a dizer, e você está dizendo. Essa é a sua contribuição, sem a qual o mundo seria um lugar mais pobre, e é algo que só você pode fazer.
Agora, escreva!
Nancy
Leia tudo sobre o Nancy em seu website.
Leia também o texto original em inglês.
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