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Mostrando postagens de junho, 2010

Decálogo do escritor, de Nelson de Oliveira

1. Ler muito. Ler de tudo. Ler sem preconceito. Os prosadores devem ler bons poemas. Os poetas devem ler boa prosa. Digo isso porque tenho notado que a maioria dos prosadores não aprecia a arte poética, assim como a maioria dos poetas não aprecia a arte da prosa. Isso não é sinal de inteligência. O escritor iniciante também precisa cultivar o gosto pela reflexão teórica. Livros de filosofia, de crítica e de história da literatura precisam freqüentar sua mesa de trabalho. 2. Ler muito. Ler de tudo. Ler sem preconceito. Ler o passado e o presente, o cânone e a atualidade. Digo isso porque tenho notado que metade dos escritores iniciantes aprecia somente a literatura contemporânea, enquanto a outra metade aprecia somente os clássicos. Isso não é sinal de inteligência. O passado e o presente precisam estar em perpétuo diálogo. 3. Ler muito. Ler de tudo. Ler sem preconceito. Ler os brasileiros e os estrangeiros, os daqui e os de lá. Digo isso porque tenho notado que metade dos escritore

Futebol e Literatura

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“Tudo que sei sobre a moral e as obrigações do homem, devo ao futebol.” Albert Camus, Nobel de Literatura Para o brasileiro, é inevitável falar ou ouvir falar de futebol, independente se gosta ou não do esporte bretão. Principalmente em época de Copa do Mundo, fica evidente do porquê vivemos no chamado país do futebol. Desde que Charles Miller desembarcou por aqui, em 1894, trazendo nas mãos duas bolas (de futebol, seu mente suja!) a aceitação popular só fez aumentar. Mas, muito da atual paixão nacional que gira em torno do esporte deve-se aos incentivos não tão inocentes de Getúlio Vargas, exímio articulador popular, que construiu o Maracanã e trouxe a Copa de 1950 para o país, fazendo um espetáculo difícil de ser esquecido pelos eleitores. Acrescente na receita alguns grandes craques como Pelé, Garrincha, Zico e Ronaldo, bem como as vitórias nos mundiais de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 para fazer com que o futebol chegasse ao que é hoje: parte da vida de todos os quem nascem no Br

A Mansão Valdemar (La Herencia Valdemar, 2010)

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Boas adaptações das histórias do universo criado por H. P. Lovecraft costumam mostrar um horror diferente, onde os mistérios e a fantasia são o essencial. E o filme espanhol A Mansão Valdemar (La Herencia Valdemar, 2010) quer justamente prestar uma homenagem ao escritor considerado o mestre da literatura de terror. A ideia é simples: misture desaparecimentos misteriosos dos que se atrevem a entrar sozinhos em uma mansão amaldiçoada com uma trama da era vitoriana envolvendo ocultismo. Adicione como personagens alguns nomes do macabro da época como Aliester Crowley , Lizzie Borden , Belle Gunness e Bram Stroker . Pronto, o resultado é uma surpresa interessante, pelo menos para os fãs de Lovecraft. Particularmente, só o fato de não ser uma produção hollywoodiana já me satisfez, mas os detalhes com a produção também chamam a atenção: desde a abertura do filme contando uma mini-história à parte, a escolha pertinente dos nomes dos lugares e pessoas envolvidos, até ao caprichoso site do f

Vincent, de Tim Burton

O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger

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Cara, tem um cigarro aí? Não? Então tá. Mas como eu ia dizendo, O Apanhador no Campo de Centeio é um livro muito foda porque, tipo assim, fala de um carinha meio chato, mas que no fundo é gente boa. De verdade. Ele foi expulso da escola umas duzentas vezes e faz um punhado de coisas como procurar uma ex dele, falar com a irmãzinha, ligar bêbado pra um punhado de gente e ir até a casa de um professor viado, antes de contar pros pais que foi expulso outra vez. Igual a ele, eu também não sou muito de dar bola pra viados e também detesto gente falsa e metida. O tal do J. D. Salinger , que era um cara bem locão e escreveu o livro, fala também sobre um troço chamado digressão, que é quando alguém tá falando de um assunto e começa a falar de outro, tipo a minha vó fazia, lembra?, aquela que gostava de falar de doenças bem na hora do almoço, quando todo mundo tava comendo ela vinha com as conversas mais nojentas. Mas, apesar disso, ela era uma velhinha legal, gente boa mesmo. Depois que li o

A Maior Flor do Mundo, de José Saramago

Criminal Minds - 1ª Temporada (2005-2006)

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Depois de diversos pedidos, aí estão as frases da 1ª temporada de CM. 1x01 Extreme Agressor Joseph Conrad disse: "A crença em uma fonte sobrenatural do mal não é necessária. O homem, por si só, é capaz de toda maldade." Nietzsche uma vez disse: "Quando você olha demais dentro de um abismo, o abismo olha dentro de você." 1x02 Compulsion Einstein uma vez disse: "Imaginação é mais importante que conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação circunda o mundo." James Reese uma vez disse: "Existem certas pistas na cena do crime, as quais por sua própria natureza, não permitem a elas mesmas serem coletadas ou examinadas. Como coletar amor, raiva, ódio, medo?" Faulkner disse uma vez: "Não incomode apenas para ser melhor que seus contemporâneos e predecessores. Tente ser melhor que você mesmo." 1x03 Won't Get Fooled Again Samuel Johnson escreveu: "Quase todos os absurdos na conduta surge da imitação daqueles, os

A Última Estação (The Last Station, 2009)

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SINOPSE: Filme sobre o escritor russo Leon Tolstói (Christopher Plummer), baseado no romance biográfico homônimo de de Jay Parini (1990), que narra os turbulentos últimos anos de sua vida em que se vê dividido entre a sua doutrina da pobreza e castidade e a realidade cotidiana defendida por sua esposa Sofia Tolstaia (Helen Mirren). Nunca pensei que os últimos dias de Tolstói pudessem ser apresentados de uma forma tão romântica e dramática ao mesmo tempo, com destaque para a incrível interpretação de Helen Mirren. TRECHOS: "Tudo o que sei, só sei porque amo." (Leo Tolstoi, Guerra e Paz) - Você se esquece que eu sou uma leitora experiente, consigo ler em seu rosto cada letra. “Ama e sê amado. É a única realidade que há no mundo.” - Eu sou o trabalho da sua vida e você é o da minha. É isso que o amor é. - Quando cortejei Sofia [...] não queria lhe dizer o que sentia e, no entanto, não queria lhe dizer outra coisa. “A sua juventude e o seu desejo por felicidade lembr

Phone Book

Livro combina páginas normais com iPhone para contar histórias Fonte: Revista PEGN A empresa japonesa Mobile Art Lab criou um produto que é um híbrido entre o iPhone e um livro comum. Batizado de Phone Book, o conceito envolve um livro comum com um local para se encaixar o iPhone. Todas as páginas do livro tem um espaço em que fica a tela do iPhone (ou iPod Touch) para ajudar na interatividade do leitor com a história que está sendo contada. O usuário tem influência nas imagens, além de sons e música. Essa interatividade exige o aplicativo "Ride, Ride" para o aparelho, que pode ser obtido gratuitamente. A intenção, segundo a empresa, é unir o analógico ao digital e proporcionar momentos de interação entre pais e filhos por meio da tecnologia, da seguinte forma: o livro, destinado às crianças menores de quatro ou cinco anos, precisa do gadget geralmente possuído pelos pais para que usufruam, na totalidade, da narração. O livro conta as aventuras dos irmãos Popo e Momo e s

O pior do mundo, com carinho, para você

O meu trabalho como advogado público me obriga a viajar pelo interior do país, fazendo contatos com os diversos prefeitos dos municípios brasileiros. Certa vez, depois de algumas horas de voo e outras tantas pelas estradas do interior do Maranhão, tive de parar na pequena cidade de Apicum-Açu. Estava ainda a algumas dezenas de quilômetros do meu destino e como não gosto de pegar a estrada à noite, tive de pernoitar ali. Registrei-me no único hotel da cidade, bastante modesto e procurei junto ao recepcionista onde poderia jantar. Ele me indicou o Bar da Gaúcha, o único “restaurante” aberto aquelas horas, a uma quadra de distância. Fui a pé, percebendo que a vida noturna dos apicum-açuenses era típica do interior: com apenas uma praça central, a da igreja, as crianças jogavam bola sob os últimos resquícios de luz solar enquanto famílias inteiras sentavam-se à porta de suas casas para ver o movimento – basicamente outras famílias fazendo uma lenta caminhada pela praça. Encontrei o bar, qu

Suporte técnico para novos leitores

Destaques da 23ª semana de 2010

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1. Assisti esta semana o último episódio da série Luther , da BBC One, que mostra como um final de série pode ser emocionante, moderno e inteligente ao mesmo tempo. Um alívio para os que achavam que de agora em diante os series finales seriam só aquelas coisas intragáveis e sem nexo de Lost . O que mais me chamou atenção nos 6 episódios, além da trama com altas doses de tensão, da vilã sexy e psicótica, dos bandidos com cara de gente como a gente, foram os diálogos de Luther fora do estereótipo do tira burro: mesmo ele sendo um policial, raciocina sobre literatura, filosofia, medicina, psicologia, etc, como se fosse um papo de boteco. A BBC One chama Luther de " dark psychological crime thriller that takes a bold new look at the detective genre ", mas eu chamo de obra de arte. Uma segunda temporada não fará falta, pois o final da primeira não deixou nada solto, mas se manterem a qualidade do roteiro, será muito bem-vinda. Eu, que já era fã das séries britânicas desde Life

O Príncipe Maldito X

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Leia também a Parte IX . Dizem que a vida é o maior enigma do universo. E que nem mesmo filósofos mais matemáticos, ou os matemáticos mais loucos, ou os loucos mais filósofos jamais conseguiram decifrá-la. E, apesar das probabilidades timidamente apontarem que zero-vírgula-alguma-coisa dos mais iluminados da humanidade provavelmente conseguiram as respostas definitivas para Quem somos, De onde viemos e Para onde vamos, ela também aponta que eles provavelmente morreram por não saberem as respostas de O que você vai fazer com esta faca, Para onde estão me levando e Por que vocês dizem que eu sou louco. Assim, o grande enigma universal continua sem respostas até o presente, pelo menos do lado de cá. Funciona mais ou menos como o espectador que aprecia uma disputa alheia de xadrez ou damas: para se ter um vislumbre geral da partida e dos melhores lances é preciso estar fora do jogo. E se o jogo for a vida... Nenhum dos visitantes do Castelo Azul queria recorrer à respostas tão extremas

Escritores na TV Câmara

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Entre 2004 e 2009, a TV Câmara apresentou um programa de entrevistas chamado SINTONIA . Dos muitos convidados entrevistados por Inimá Simões, destacaram-se muitos escritores famosos, como João Gilberto Noll, Ignácio de Loyola Brandão, Ruy Castro, Milton Hatoum, Carlos Heitor Cony e Luis Fernando Verissimo; e escritoras como Lya Luft, Marina Colasanti, Martha Medeiros, entre outros(as). Estes momentos seriam preciosidades perdidas da TV brasileira, se a TV Câmara não disponibilizasse os vídeos gratuitamente, para assistir e para baixar, em seu sítio. Atualmente, a tarefa ficou com o programa SEMPRE UM PAPO , com o foco exclusivo na literatura, e por onde já passaram os escritores José Eduardo Agualusa, Mia Couto, Içami Tiba, Drauzio Varella, Rubem Alves, Zuenir Ventura, Tony Belloto, José Romano de Sant'Anna, Cristóvão Tezza, Moacyr Scliar; e as escritoras Mary Del Priore, Adriana Falcão, Fernanda Young e Nélida Piñon, entre outros(as). Os entrevistados falam sobre os seus

Campeonato Gaúcho de Literatura (CGL)

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Quando a gente pensa que já viu de tudo nessa internet, eis que surge mais uma novidade. E desta vez, das boas. É o Campeonato Gaúcho de Literatura ( www.gauchaodeliteratura.com.br e @gauchaodelit ). Inspirado na Copa de Literatura Brasileira (cujo site encontra-se sinistramente em manutenção desde o final da última edição), só que restrito aos livros de contos publicados no Rio Grande do Sul, em 2008 e 2009, a disputa do CGL, assim como na CLB, traz duelos entre dois livros, onde somente um avança para a próxima fase. Com direito a xingamento ao juiz pelos torcedores mais fanáticos e tudo. Dos 27 concorrentes, há autores de renome nacional - como Lya Luft e o seu O Silêncio dos Amantes (Record, 2008) - e outros bastante elogiados pela crítica - como Carol Bensimon e o seu Pó de Parede (Não Editora, 2008) - e um punhado de outros menos conhecidos, pelo menos por estas bandas de Goiás, mas nem por isso menos talentosos. Como mais uma das tradições do Sul é revelar bons escritores,

A Menina no País das Maravilhas (2008)

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Para os que, como eu, acharam o filme Alice no País das Maravilhas ( Alice in Wonderland , 2010) do diretor Tim Burton um vaso feito de cacos retirados de outros filmes (muito déjà-vu de As Crônicas de Nárnia ), nada melhor que encontrar uma pérola pouco conhecida como A Menina no País das Maravilhas ( Phoebe in Wonderland , 2008). O filme, além de trazer um drama infantil sensível e tocante, mostra as ótimas atuações de Elle Fanning, Felicity Huffman e Patricia Clarkson. Só quem pecou na atuação foi Campbell Scott, que interpretou o caricato diretor do colégio, mas também o papel dele não ajudou muito. O filme usou uma forma original para abordar a [spoiler] Síndrome de Tourette [/spoiler]. Ouse sonhar sua vida. Sinopse: Um fantástico filme, onde a realidade e os sonhos se encontram. Phoebe (Elle Fanning), é uma menina rejeitada pelos seus colegas de classe, que deseja mais do que tudo participar da peça de teatro da escola, Alice no País das Maravilhas. Com o estress do

Destaques da 22ª semana de 2010

1. Para os que já seguem o @OCriador pelo Twitter, @RealMORTE é uma ótima pedida, assim como o blog DIÁRIO DA FOICE . Nada como saber o que o futuro nos aguarda, com uma boa dose de humor negro. 2. O divertido blog Doutor Z. traz muito humor em imagens, vídeos e jogos online. Não deixem de experimentar os jogos na Seção Segunda-Preguiça . O nome é bastante sugestivo para os que, assim como o Garfield, "adoram" as segundas-feiras.

L.I.V.R.O, de Millôr Fernandes

Existe entre nós, muito utilizado, mas que vem perdendo prestígio por falta de propaganda dirigida, e comentários cultos, embora seja superior a qualquer outro meio de divulgação, educação e divertimento, um revolucionário conceito de tecnologia de informação. Chama-se de Local de Informações Variadas, Reutilizáveis e Ordenadas - L.I.V.R.O. L.I.V.R.O. que, em sua forma atual, vem sendo utilizado há mais de quinhentos anos, representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, nem pilhas. Não necessita ser conectado a nada, ligado a coisa alguma. É tão fácil de usar que qualquer criança pode operá-lo. Basta abri-lo! Cada L.I.V.R.O. é formado por uma seqüência de folhas numeradas, feitas de papel (atualmente reciclável), que podem armazenar milhares, e até milhões, de informações. As páginas são unidas por um sistema chamado lombada, que as mantém permanentemente em seqüência correta. Com recurso do TPO - Tecnologia do Papel Opaco - os fabricantes de L.I

Os livros de Mike Stilkey

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Mike Stilkey é um desenhista que encontrou um jeito diferente de usar aqueles livros que "encalharam" na sua casa: com muita imaginação e uma boa dose de tinta, transformou-os em quadros, esculturas e objetos de decoração. Embora muitos leitores sintam um arrepio ao verem ele "profanando" o objeto de sua sagrada devoção, devemos admitir que o trabalho dele é interessante e bem melhor que destiná-los ao lixão. Clique nas imagens abaixo para ampliá-las Veja mais imagens visitando a galeria virtual no site do artista: www.mikestilkey.com

Frases de desconhecidos

O Último Medo

A pequena vila de Arzis mantinha-se há séculos isolada da civilização, graças à sua topografia ímpar. De um lado, a densa floresta com os mais perigosos animais selvagens e armadilhas, com um terreno traiçoeiro em que nem os mais experientes caçadores arriscariam entrar sozinhos. De outro, uma cordilheira de montanhas que se estendia por quilômetros, com noventa por cento do ano de neve e ventos fortíssimos. O único contato com o mundo exterior sempre fora, desde que os primeiros desbravadores alemães pisaram naquelas terras, o porto localizado na tímida enseada. Apesar de ser uma vila que subsistia basicamente da pesca, com as suas centenas de moradores, era amedrontadora devido a sua localização. Qualquer novo visitante, provindo do mar, ao ver Arzis pela primeira vez sentia a sensação claustrofóbica ao saber que a única saída dali seria dar meia-volta e deixá-la para trás. Hoje, porém, se algum barco visitante parasse no porto, estranharia não ver nenhum pescador ou trabalhador, e