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Mostrando postagens de setembro, 2011

Fora da Caixinha

Mal o dia começara e o calor já estava insuportável. O entrevistador tenta aumentar a velocidade do pequeno ventilador de mesa, mas quando este começa a se chacoalhar fazendo ruídos que só aumentariam a sua dor de cabeça, acaba desistindo da tentativa. Próximo, grita para a porta, mesmo sabendo que seria o primeiro da fila. Mas era a senha para que a secretária fizesse a fila andar. Quando chegara vira dezenas de candidatos, cada um mais estranho e desesperado que outro. Provavelmente noventa por cento não teria qualificações para a vaga. Previsão de mais um longo e cansativo dia. Os três primeiros candidatos eram o que o entrevistador costumava chamar de arroz com feijão. Não fediam nem cheiravam. Currículos modelo Word, informações de escolaridade e profissionais parcas, incompletas ou inexatas, mesmo para uma lida superficial. Como estes caras querem conseguir um emprego se nem mesmo sabem escrever os seus currículos direito, costumava comentar com os outros entrevistadores durant

Questão de tempo

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Os pecados têm vinte anos, os remorsos têm oitenta.  (Música Havemos de ir a Viana, da cantora portuguesa Amélia Rodrigues)

Sotaque mineiro: é ilegal, imoral ou engorda?, de Felipe Peixoto Braga Netto

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Gente, simplificar é um pecado. Se a vida não fosse tão corrida, se não tivesse tanta conta para pagar, tantos processos — oh sina — para analisar, eu fundaria um partido cuja luta seria descobrir as falas de cada região do Brasil. Cadê os lingüistas deste país? Sinto falta de um tratado geral das sotaques brasileiros. Não há nada que me fascine mais. Como é que as montanhas, matas ou mares influem tanto, e determinam a cadência e a sonoridade das palavras? É um absurdo. Existem livros sobre tudo; não tem (ou não conheço) um sobre o falar ingênuo deste povo doce. Escritores, ô de casa, cadê vocês? Escrevam sobre isto, se já escreveram me mandem, que espero ansioso. Um simples" mas" é uma coisa no Rio Grande do Sul. É tudo menos um "mas" nordestino, por exemplo. O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo (das mineiras) ficou de fora?

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Entro no quarto escuro, silenciosamente. Não posso acordá-lo, já não consigo prever o que ele faria. Mas preciso descobrir o que meu filho está tramando. A lanterna me paralisa na primeira página de seu diário.

A Guerra dos Tronos, de George R. R. Martin

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O diretor J. J. Abrams confessou que tudo o que uma história precisa para cativar o público é abusar das caixas misteriosas. Não, ele não estava falando para se usar uma fábrica de embalagens como cenário universal. Ele chama as perguntas levantadas no decorrer da história de caixas misteriosas. Não importa se estas caixas serão ou não abertas no final, elas já cumpriram o seu papel: estimular a criatividade do leitor/telespectador e fazê-lo continuar a acompanhar a sequência até o final. E é exatamente isso o que faz o roteirista norte-americano George R. R. Martin em sua série de fantasia As Crônicas de Gelo e Fogo . O primeiro volume dos sete livros previstos (atualmente o escritor lançou o quinto, em inglês), intitulado A Guerra dos Tronos (Leya, 2010), traz várias caixas misteriosas, ou situações conflitantes, que pretendem ser solucionadas nas centenas de páginas que trarão os próximos volumes. Mas não pense que todos os conflitos são deixados para os volumes subsequentes, m

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Os brinquedos de menino Não são mais como eram antes Nem bola nem bicicleta Só fuzis em braços infantes. As balas deixaram de ser doces E a estrada O futuro De raiar as suas cores.

Luva Branca precisa de você

O dia amanhecia quando o delegado federal Paulo Soares Júnior preparava a equipe para o cumprimento daquele mandado de prisão. A expectativa pela ação que se aproximava gerava uma tensão na equipe que espantava o frio da manhã e o sono da noite mal dormida. O delegado olhou para o relógio, rigorosamente cronometrado com o das equipes em outras cidades do país, para que todos os suspeitos fossem surpreendidos ao mesmo tempo. Como o encarregado da maior investigação dos últimos tempos no Brasil, Soares Jr., apelidado Esse-Jota pelos companheiros, não admitiria falhas. Nem poderia falhar: a cobrança sobre si era grande como nunca antes fora sobre um delegado federal. Mas ele sabia que era normal, afinal, nunca antes na história um presidente da república havia sido assassinado. Ou melhor, não um presidente qualquer, mas a primeira presidenta mulher do Brasil: a falecida petista Dilma Rousseff. Os pássaros faziam algazarra nas árvores anunciando que o dia começava feliz para eles. Mas er