O meu amor, os meus amores
O tema da rodada do Duelo de Escritores é Jesus Cristo. Para não passar batido, e lembrando um comentário que deixei no blogue do Rodrigo Oliveira sobre as enchentes em Santa Catarina, resolvi dar a minha contribuição.
As palavras nos levam.
As águas nos levam.
Só nós é que não levamos nada.
As águas nos levam.
Só nós é que não levamos nada.
Lá fora, cai a chuva. E com ela, as esperanças de reencontrar o meu amor. Os meus amores. As águas, outrora renovadoras da vida, são foice impiedosa colhendo grãos imaturos. Um destes grãos, o meu amor. Os meus amores.
Eu amei a mulher certa. Fui fecundo e multipliquei-me. Erigi o meu castelo. Tolo. Sem saber, apenas preparei por anos uma refeição que a terra engoliu em minutos.
Castelo? De cartas. Multipliquei-me? Por zero. A mulher certa? Uma náiade saudosa.
É a esperança a bonança após a tempestade? Restou-me o quê, meu Deus? Restou-me quem? Tu? A esperança as águas levaram. Deus as águas levaram. O meu amor, os meus amores, as águas levaram. Fiquei só, esperando as águas levarem.
Mas elas não levaram, preferiram me lavar, purificar com lama e leptospiras. E porque fiquei, me recuso a chorar. Não vou aumentar uma gota o exército dos que pilharam tudo o que tive.
E meu inimigo há de secar. Eu vencerei mãe natureza e papai do céu. Carne e sangue derrotam água e terra, pois (des)carregam ódio e amor. O meu amor, os meus amores, a água não leva mais. Agora estão em mim, em meu sangue, em minha carne. Vencerei... só... por eles.
Salve, Jefferson! Como já comentei, sua intervenção não poderia ter sido mais apropriada. Belas passagens trouxe o seu texto. A das lágrimas se somando às águas foi uma imagem muito bacana mesmo. E nós seguimos, sem levar nada.
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