Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2012

Quando crescer eu quero ser igual ao meu pai

Madrugada. Ducha fria. Pão com margarina. Café preto quente. Beijo. Beijo. Esposa e filho. Frio. Ônibus lotado. Porcos enlatados. Trânsito. Engarrafamento. Xingamentos. Barbeiragens. Atraso. Gerente nervoso. Último aviso. Cliente chato. Mais um. Outro. Outro. Outroutroutro. Trabalho chato. Vida chata. Meio-dia. Fome. Pê-éfe. Arroz. Feijão. Bife. Ovo. Digestão relâmpago. Fome. Água, muita água. Cliente brigão. Xingamentos. Barraco. Gerente-sorriso. Cliente sempre certo. Gerente-ameaça. Empregado sempre errado. Advertência. Feladaputa. Suspensão. Ônibus lotado. Suor e cecê. Trânsito. Engarrafamento. Cansaço. Beijo. Beijo. Filho e esposa. Porta da geladeira. Contas atrasadas. Água. Energia. Aluguel. Receita médica. Tosse e febre alta. Remédio infantil. Sessenta reais na farmácia. Vinte na carteira. Ducha fria. Janta requentada. Tevê. Notícias. Inflação. Greves. Mensalão. Cachoeira. Milhões de reais. Todos inocentes. Menos eu. Noite abafada. Pernilongos. Sono ruim. Pesadelo. Fim?

A Arte de Não Ler

Lá em 2008 eu colaborava com o site OPS - O Pensador Selvagem com a coluna Palavras Mal Ditas , sobre literatura. Acontece que, por total falta de tempo minha, não consegui dar continuidade ao projeto. E parece que os administradores do OPS resolveram deletar os textos publicado por lá. Eu, que já dava como perdido todos os textos, tive uma surpresa ao me deparar com um deles vagando pela internet. Então, resolvi postá-lo aqui mesmo, já que era um texto até legalzinho. ________________________________________ A Arte de Não Ler Por Jefferson Maleski 15 de novembro de 2008 No artigo de estréia da coluna Palavras Mal Ditas, resolvi trazer algumas dicas para você não ler. Claro que este é um artigo importantíssimo em uma coluna sobre literatura! Quer saber porque? Então leia, reflita e não esqueça de comentar. Nada melhor que estrear uma coluna de literatura falando sobre algo essencial a todo leitor: a necessidade de dominar a arte de não ler. É isso mesmo, você não entendeu erra

O melhor de Henry Miller é Anaïs Nin

Imagem
A única meta de leitura que estipulei para 2012 foi finalizar a leitura da Coleção Biblioteca Folha (2003) . No começo do ano faltavam 15 livros dos 30 da coleção. Uma quantidade razoável, se eu não tivesse deixado para lê-los somente nos últimos meses do ano, hehehe. Mas ainda acredito que consiga. Uma das vantagens de se ler uma coleção de clássicos é a possibilidade de você encontrar um livro ruim reduzir-se exponencialmente. Por exemplo, dos 15 livros que lera da coleção, somente um - O Amante, de Margarite Duras - classifiquei como ruim. Até agora. Pois finalizei ontem a leitura do Trópico de Câncer, de Henry Miller, e não consegui gostar/entender/curtir a proposta. Item obrigatório nas listas dos 100 melhores livros do século XX, arrisco prever que deixará de ser lido paulatinamente pelas próximas gerações. Eu tive que me esforçar muito para não abandonar a leitura. Primeiro, o uso do fluxo de consciência como estilo precisa ser muito bem feito, pois em si já traz algumas dif

10 Direitos do Leitor

Imagem
Eu já havia falado sobre isso  em 2008 quando li o livro do Daniel Pennac, mas encontrei uma ilustração bonitinha e seguindo a velha lógica de que uma imagem vale mais que mil palavras, republico. Clique na imagem para vê-la grandona.

Uma imagem em 36 palavras (1)

Imagem
tentativa 1 SMS: OBJ unknown no BD / jogando foto na rede / googlando imgs compatíveis / ligando 193 Busca: "terrorismo + bomba" = resultados insatisfatórios; "antropologia + papel" = 1 resultado compatível... Post: gravar palavra estranha: livro. tentativa 2 [contato inicial bem sucedido... camuflagem em objeto referência de conhecimento e sabedoria despertou curiosidade momentânea, mas logo foi abandonado e esquecido... preparem a invasão total ao planeta... seres dominantes são máquinas que controlam escravos biológicos inferiores]

Os Solteirões da Literatura

Imagem
Em homenagem a este 15 de agosto, Dia dos Solteiros, pedi ajuda a alguns amigos na internet para fazer a lista dos escritores e escritoras famosos que abraçaram - por motivos diversos, claro - a solteirice eterna. Enfim, é uma lista modesta e se alguém quiser contribuir, fique à vontade. Anne Bronte  Arthur Rimbaud  Emily Bronte  Emily Dickinson  Franz Kafka  Federico Garcia Lorca  Fernando Pessoa: A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Gustave Flaubert  Jane Austen: A imaginação de uma senhora é muito rápida; pula da admiração para o amor, e do amor para o matrimônio em um segundo. É uma verdade universalmente aceita que um homem solteiro, dotado de uma certa fortuna, precisa de uma esposa. Lima Barreto  Manuel Bandeira: Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus - ou fora do mundo. As almas são

Aforismos - Julho 2012

Escolha qual você gostou mais. Todos escritos pelo Jefferson Luiz Maleski. Se quiser replicar algum deles, só peço para que mencione a autoria, ok? Negociem-me tal qual mercadoria, ó governantes capitalistas! Um dia me vingarei: sem garantia e validade, me consumirão e passarão mal. Meus pais me amam. Sempre pensaram haver tempo para revelarem o quanto. Acabaram o dizendo aqui, nesta lápide. A vida ainda pode ser do jeito que você sonhava que seria. Se você está vivo, ainda há tempo de se tornar a pessoa que você gostaria de ser. As pessoas se machucam sozinhas, quem dirá acompanhadas! Quando eu crescer quero ser do jeito que os outros acham que eu sou. Valorize os seus defeitos. Alguns deles podem ser o que você tem de melhor. Enquanto alguns se deprimem mesmo no paraíso eu me divirto até no inferno. Sou um espécime raro. Só existe um de mim em todo o Universo. O problema de você querer ostentar a sua inteligência aos outros é eles perceberem que nem mesmo v

Sujeito Inexistente

Bem-vindo à Yotta, a única cidade em todo o planeta cinza. Não pense, com esta afirmativa, que ela é um pequeno ponto perdido em meio a uma vasta região inóspita. Pelo contrário, a cidade de Yotta ocupa toda a superfície sólida do planeta. Tanto é que o nome da cidade suplantou o antigo nome do planeta e acabou ficando conhecida como Yotta, a cidade-planeta, ou o planeta-cidade. Yotta já nasceu grande, complexa, repleta de vida e dos problemas que a acompanham. Em tempos remotos, quando a palavra cidade ainda existia no plural, estas cresceram vertiginosamente e acabaram inevitavelmente unindo-se em metrópoles que, por sua vez, cresceram em megalópoles, depois em gigalópolis, teralópolis, petalópolis, exalópolis, zettalópolis, até, por fim, chegar-se a Yotta, a única yottalópolis, a mãe, descendente e assimiladora de todas as cidades. A primeira, única e última de seu gênero. Houve épocas em que era possível, em qualquer parte da cidade, ver o sol nascendo sob os arranha-céus a lest

La Maison Dieu

Um conto antigo que achei ao limpar os rascunhos da minha conta de email hoje. Não lembro porque o escrevi nem a motivação. Não  foi revisado. Na parte mais alta do castelo, há uma sala com uma mesinha ao centro. Em cima da mesa, um tabuleiro monocromático apresenta algumas peças caídas de ambos os lados. Uma jovem o observa em silêncio. Sentada, mãos sobre os joelhos trêmulos, cabelos encobrindo-lhe sobre a face, respiração irregular, lágrimas escorrendo involuntárias. Vez por outra, ela limpa o nariz com a palma da mão e tenta olhar o jogo turvado por fios dourados e gotículas de água. O que olha lhe causa dor. Mental. Física. Emocional. Mas ela não vê apenas peças estáticas à sua frente. Sim, ela vê as peças à sua frente, mas vai além. Em sua imaginação, peças criam vida e movem-se sozinhas em uma lógica matemática incontestável. Para cada movimento um contra movimento. Para cada contra movimento um contra contra movimento. As jogadas são antecipadas três, cinco, dez casas, até a