Perseguição

- Querida, não vire agora mas tem alguém nos observando.

- É mesmo? Quem?

- Atrás de você. Olhe disfarçadamente por cima do seu ombro esquerdo.

- Ah, estou vendo. Você conhece?

- Não faço idéia de quem seja. Mas fique tranqüila, mesmo se for alguém mau intencionado, não vai ser idiota pra tentar algo em um local público e cheio de pessoas.

- Estou com medo, amor.

- Eu estou aqui contigo, relaxa.

- E se for um parente de alguma ex-namorada sua? Quem vai precisar de proteção é você.

- Esquece isso, meu bem. Até porque nunca fui de namorar ninguém com parentes esquisitos. Pelo menos, não que eu saiba. E tem outra, eu tenho uma boa relação de amizade com todas as minhas ex.

- Eu sei disso muito bem.

- Querida, não vamos brigar novamente por isso. Você sabe que eu só amo você, minha pimentinha.

- Tá bom. Mas o que fazemos a respeito do observador?

- Vamos embora. A situação já está ficando chata.

- Vamos. Me dê as chaves do carro.

- Por quê?

- Porque você bebeu dois copos de chope, oras. Vai que é algum fiscal de trânsito de olho só pra te pegar no flagra assim que a gente sair do estacionamento?

- É, você está certa. Melhor não arriscar. Toma aqui.

...

- Agora é só ir para casa. Que coisa estranha, não?

- Não cante vitória antes do tempo, meu bem. Olhe pelo retrovisor.

- Puxa vida, esse cara não desiste? Isso me deixou com mais medo. Por que estamos sendo seguidos?

- Não sei. Vamos tentar despistá-lo.

- Como? Eu não vou fazer nada perigoso.

- Tive uma idéia. Antes de ir para casa, passe pela Delegacia.

- Tá bom.

...

- Encoste ali, perto do policial... Boa noite, senhor policial. O senhor poderia nos passar o ramal da viatura que faz ronda no bairro Andracel Center? Ok, a gente espera... Viu, querida? Assim fazemos duas coisas ao mesmo tempo: desestimulamos qualquer um que esteja nos seguindo e ficamos tranqüilos em casa sabendo que podemos entrar em contato diretamente com os policiais que estiverem mais perto.

- Por isso a gente se casou, amor: você sabe fazer escolhas inteligentes.

- Engraçadinha... Ah, muito obrigado, policial, e tenha uma boa noite.

...

- Até que enfim, lar doce lar. Eu estou exausto. Definitivamente, os homens não foram feitos para ver vitrines com as esposas. Não somos tão fortes psicologicamente.

- Pois eu sei exatamente como te deixar bem relaxado. Vou te dar um banho agora.

- Relaxado não é bem como eu fico contigo no chuveiro, sua safadinha.

- Seu bobo. Você vem ou não vem?

- Ô, demorou.

- Amor, me ajuda a abrir o zíper do vestido.

- Claro, vem aqui.

- Espera um pouco, meu bem, olha quem está ali nos olhando de novo...

- Ah, não! Isso já é brincadeira! Perdi a paciência com esse cara. Ei, você aí, que está lendo essas linhas... É, você mesmo. Não tem mais nada pra fazer não? Vai assistir televisão ou levar o cachorro pra passear. Será que eu não posso ter um momento de intimidade com a minha esposa sem que você fique vendo tudo?

- Tem gente que não se toca mesmo, né, amor? Acho melhor a gente terminar a história aqui pra esse intrometido nos deixar em paz...

Comentários

  1. Putz, criatividade 1000000. UHEAHAIUHEIUAHE
    Adorei! =D

    ;**

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  2. muito legal a sua idéia.. inédita, engraçada, imprevisivel.
    PARABENS

    :*

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  3. Em resposta ao comentário sobre meus textos: só posso dizer que acesse às revistas que me publicaram e peça a elas que te forneçam manual de instruções.

    P.S. Não troco "correspondências". Ficamos por aqui.

    Abração.

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  4. HE-HE-HE! Me pegou direitinho. Imprevisível. Diálogo amarrado, bom pra caramba Jeff. Queria ter tido esta idéia :)
    Parabéns, querido!!!

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