O pior do mundo, com carinho, para você
O meu trabalho como advogado público me obriga a viajar pelo interior do país, fazendo contatos com os diversos prefeitos dos municípios brasileiros. Certa vez, depois de algumas horas de voo e outras tantas pelas estradas do interior do Maranhão, tive de parar na pequena cidade de Apicum-Açu. Estava ainda a algumas dezenas de quilômetros do meu destino e como não gosto de pegar a estrada à noite, tive de pernoitar ali. Registrei-me no único hotel da cidade, bastante modesto e procurei junto ao recepcionista onde poderia jantar. Ele me indicou o Bar da Gaúcha, o único “restaurante” aberto aquelas horas, a uma quadra de distância. Fui a pé, percebendo que a vida noturna dos apicum-açuenses era típica do interior: com apenas uma praça central, a da igreja, as crianças jogavam bola sob os últimos resquícios de luz solar enquanto famílias inteiras sentavam-se à porta de suas casas para ver o movimento – basicamente outras famílias fazendo uma lenta caminhada pela praça. Encontrei o bar, que tinha apenas cinco mesas vermelhas de metal, duas ocupadas, e nos fundos um balcão com uma senhora gorda e de rosto bastante vermelho. Como o cardápio verbal consistia em um PF por um real ou um PF com guaraná – de nome desconhecido – por dois reais, escolhi o segundo e me sentei à mesa mais próxima da porta. Apesar de já ter escurecido, o calor da região era algo com o qual eu não estava acostumado. Somente quando me sentei que uma figura sentada à mesa ao lado falou comigo.
- Por acaso você não seria o João Medeiros, de Brasília?
Olhei espantado para ele, pois não só havia acertado a minha cidade quanto o meu nome. Apesar dos lapsos de memória e das transformações que todos sofremos com o passar dos anos, reconheci que se tratava de um antigo colega de faculdade, o Amaury. Cumprimentei-o entusiasmado e depois de um abraço e alguns tapinhas nas costas, puxei a cadeira para me sentar com ele.
- Grande Amaury, o que você faz perdido por estas bandas? – perguntei.
- É uma longa história, mas dá para encurtá-la se você lembrar-se da minha profissão – ele respondeu, como sempre fazia, deixando uma pergunta no ar, enquanto cortava um pedaço de carne.
Claro que eu lembrava, o Amaury era ator, um excelente ator por sinal, que todos achavam que assim que terminasse o curso de teatro iria direto para as grandes redes de tevê aparecer em novelas e filmes. Mas, estranhamente, ele desapareceu totalmente do mapa depois da faculdade. E sempre que o nome do Amaury surgia nas conversas entre conhecidos eram mais para lembranças de suas performances que notícias do seu paradeiro. Comentei com o Amaury meu desgosto por não vê-lo na televisão.
- Eu resolvi virar palestrante motivacional. Viajo o Brasil inteiro com minha equipe, que na verdade são outras duas pessoas, fazendo a palestra “Atitude de Viver” já há alguns anos – retirou do bolso um folheto em que aparecia a sua foto embaixo do título da palestra, com outras informações além da frase “mude a sua vida para melhor” – Inclusive, se você quiser ver o meu show, eu me apresento no salão paroquial hoje às oito.
Era um convite tentador, pois não teria mais que procurar o que fazer até a hora do sono chegar. Portanto, aceitei de bom grado, quando entrou uma pedinte no bar e chegou até a nossa mesa.
- Dá um real, moço – falou a velha.
- Tá errado, minha senhora, não é assim que se pede – interrompeu Amaury, para a surpresa dela e minha – Deste jeito ninguém vai dar nada para a senhora. É preciso mudar alguns detalhes na sua abordagem para ganhar algum dinheiro quando for pedir dinheiro dos outros, inclusive o nosso. Quer que eu te mostre como?
- Sim, eu acho – respondeu a velha sem saber ao certo o que fazer.
- Bem, primeiro, você tem que fazer uma expressão de sofrimento em seu rosto. Algo que convença a quem você está pedindo que a sua vida depende daquilo. Mude também o tom da sua voz, ela está muito forte ao dizer “dá um real, moço”. Ela precisa ser fraca, baixa, se possível tremida e com um “pelamordedeus” no final, para criar empatia. E se a senhora mostrar uma enfermidade, se entrar mancando ou encurvada ou com uma das mãos nas costas, vai até mesmo transmitir a dor aos outros que a observam, e a dor é o principal instrumento para acionar a empatia nos outros. A senhora tem alguma roupa mais velha? Use-a. Tem alguma criança pequena, algum filho ou neto, de preferência de colo? Traga-o junto. E, por favor, não coloque o preço na sua esmola. Se você pedir um real, é tudo o que vai ganhar. Ao contrário, diga um trocado e poderá ganhar muito mais. Eu poderia te dar outra dica infalível, mas somente se a senhora tiver um real para me dar… pois esta não vai sair de graça.
A mulher olhou espantada, mas parece que estava gostando do que o Amaury dizia, e depois de olhar para os lados e ver que ninguém a via, colocou a mão no bolso, retirou uma cédula amassada e entregou. O Amaury a chamou até si e cochichou por alguns instantes em sua orelha, usando as mãos em cone para que eu não ouvisse. Eu observava a expressão no rosto da mulher, que ia mudando de um tom curioso e desconfiado até um de satisfação por saber algo que passou a julgar importantíssimo. Quando ele terminou, ela agradeceu efusivamente o Amaury, chacoalhando as suas mãos em um aperto que mais parecia um golpe de jiu-jitsu. Ela saiu do bar repetindo agradecimentos até desaparecer, quando olhei o Amaury e percebi que aquilo parecia ter sido algo normal, já que voltara para a carne em seu prato.
- Você não tem vergonha em tomar o dinheiro de uma mendiga, Amaury?
- Não, porque se eu não tivesse feito isso ela não teria dado o devido valor à informação que passei. Você já percebeu que todos nós somos assim? Valorizamos mais o que não temos ou o que nos é caro conseguir. Por causa deste real que ela deu ela nunca vai esquecer o que eu disse.
- E o que você cochichou para a velha?
- Você tem um real aí? – concluiu, sorrindo.
Foi quando o meu prato chegou, estranhamente parecido com o do Amaury, e continuamos conversando por um bom tempo, relembrando o passado, ele falando dos seus shows e do meu trabalho. Eu ainda estava na metade da refeição – por causa da luta com a carne que insistia em não ser cortada ou por conversar mais que comer – quando Amaury se levantou dizendo que tinha de ir se preparar para a palestra. Ele estava hospedado no mesmo hotel que eu, e precisava trocar de roupas e encontrar a equipe no salão paroquial para acertar os últimos detalhes, e nos despedimos ali com um “até daqui a pouco”, isso se eu vencesse aquela carne ou se ela me vencesse pelo cansaço.
Ainda tive tempo de voltar ao hotel e tomar um banho antes da hora marcada. Estava ansioso com a palestra do Amaury, pois sabia que ele era excelente ator, e demonstrou muito bem no bar que sabia ensinar até mesmo uma pedinte. Olhei para o folheto e percebi que o preço era apenas cinco reais. Aquilo era algo que eu não entendia: como o Amaury, com excelente potencial, poderia estar fazendo shows tão baratos em lugares tão não convencionais como Apicum-Açu? Ele poderia estar ganhando rios de dinheiro nas capitais, onde nunca ouvi falar do show dele. Era algo que eu precisava perguntar para ele depois do show.
Cinco para as oito e eu estava na fila em frente ao salão paroquial. Parecia que não só eu estava à procura de um passatempo diferente, mas o restante da população também. Com certeza, era um evento diferente e que fazia com que todos, mesmo os que não se interessavam pelo tema, aproveitassem a oportunidade de quebra da rotina de olhar a praça ou a novela. Na entrada, pude ver dois cartazes que reproduziam em tamanho maior o panfleto que o Amaury havia me dado. Um rapaz na porta cobrava o ingresso e, ao entrar, percebi que o salão estava lotado. O palco improvisado tinha alguns refletores e caixas de som, para que o palestrante pudesse ser visto e ouvido por todos.
Depois de quinze minutos de atraso, ou para esperar os retardatários, o show começou. Amaury fez uma entrada rápida, e começou contando uma história que não entendi direito o significado. Depois contou uma piada sem graça. Depois cantou uma música desconhecida e sem ritmo. Percebi que à medida que o show ia transcorrendo que o Amaury não conseguia passar nenhuma lição, emoção, ou até ensinamento a nenhum dos presentes. As pessoas pareciam incomodadas, o show era realmente muito ruim. Alguns cochichavam, outros levantaram e saíram resmungando que aquilo era tempo perdido, mas a maioria permaneceu. Talvez, assim como eu, esperavam uma melhora na qualidade antes do fim. Uma melhora que não veio. A palestra era chata, sem foco ou roteiro, com referências que só o palestrante parecia conhecer e com um punhado de agradecimentos aos patrocinadores. A indignação da plateia era visível. Alguns agora xingavam sem receio de serem ouvidos, e diziam que se tivessem trazido, atirariam tomates e até repolhos no palestrante. Mas Amaury não parecia se importar com isso e continuou a atuação horrorosa. Confesso que eu mesmo fiquei indignado por ter gasto cinco reais para ver aquilo. Eu mesmo poderia fazer um show bem melhor. Eu ouvia alguns ao meu redor falando as mesmas coisas. Foi quando Amaury interrompeu a música e chamou a atenção do público e pedindo desculpas a todos. Parecia ser a conclusão da palestra.
- Senhoras e senhores, todos os presentes, eu quero dizer que sei exatamente como se sentem. Vocês acabaram de assistir o pior show de suas vidas, mas saibam que foi intencional. Ele foi elaborado exatamente assim para que vocês pudessem sentir a raiva e a indignação que agora estão sentindo. Todos estão pensando que poderiam fazer melhor tudo o que eu fiz aqui, e com razão. A grande pergunta é: por que então não o fazem? Por que deixam que outros, piores que vocês, tomem a frente? É esta a mensagem que eu quero passar, vocês não só conseguem fazer melhor que eu, mas DEVEM fazer melhor que eu, que os outros e até melhor que vocês mesmos. Eu não ganho nada com esta palestra, eu vivo de assessoria particular que presto para políticos, empresários e personalidades famosas e ganho muito bem. Eu faço isso por prazer, para motivar os senhores a usar essa raiva e indignação dentro de vocês para mudarem a si mesmos e ao mundo ao seu redor, para serem outros de hoje em diante. Vocês podem atuar como os melhores personagens de suas vidas ou assistir outros tomarem este papel. Mas o meu conselho é que, se vocês perceberem que não são os protagonistas de suas vidas, fiquem indignados, fiquem com raiva, revoltem-se e tomem de volta os papéis que sempre deveriam ser seus. Aqui, hoje, vocês aprenderam a não gastar nem mesmo uma hora de suas vidas com aqueles que são medíocres e espero sinceramente que não o façam nunca mais. Desejo a todos uma boa noite e até mais. Os que desejarem poderão pegar na saída o dinheiro do ingresso com o meu assistente. Adeus.
- Por acaso você não seria o João Medeiros, de Brasília?
Olhei espantado para ele, pois não só havia acertado a minha cidade quanto o meu nome. Apesar dos lapsos de memória e das transformações que todos sofremos com o passar dos anos, reconheci que se tratava de um antigo colega de faculdade, o Amaury. Cumprimentei-o entusiasmado e depois de um abraço e alguns tapinhas nas costas, puxei a cadeira para me sentar com ele.
- Grande Amaury, o que você faz perdido por estas bandas? – perguntei.
- É uma longa história, mas dá para encurtá-la se você lembrar-se da minha profissão – ele respondeu, como sempre fazia, deixando uma pergunta no ar, enquanto cortava um pedaço de carne.
Claro que eu lembrava, o Amaury era ator, um excelente ator por sinal, que todos achavam que assim que terminasse o curso de teatro iria direto para as grandes redes de tevê aparecer em novelas e filmes. Mas, estranhamente, ele desapareceu totalmente do mapa depois da faculdade. E sempre que o nome do Amaury surgia nas conversas entre conhecidos eram mais para lembranças de suas performances que notícias do seu paradeiro. Comentei com o Amaury meu desgosto por não vê-lo na televisão.
- Eu resolvi virar palestrante motivacional. Viajo o Brasil inteiro com minha equipe, que na verdade são outras duas pessoas, fazendo a palestra “Atitude de Viver” já há alguns anos – retirou do bolso um folheto em que aparecia a sua foto embaixo do título da palestra, com outras informações além da frase “mude a sua vida para melhor” – Inclusive, se você quiser ver o meu show, eu me apresento no salão paroquial hoje às oito.
Era um convite tentador, pois não teria mais que procurar o que fazer até a hora do sono chegar. Portanto, aceitei de bom grado, quando entrou uma pedinte no bar e chegou até a nossa mesa.
- Dá um real, moço – falou a velha.
- Tá errado, minha senhora, não é assim que se pede – interrompeu Amaury, para a surpresa dela e minha – Deste jeito ninguém vai dar nada para a senhora. É preciso mudar alguns detalhes na sua abordagem para ganhar algum dinheiro quando for pedir dinheiro dos outros, inclusive o nosso. Quer que eu te mostre como?
- Sim, eu acho – respondeu a velha sem saber ao certo o que fazer.
- Bem, primeiro, você tem que fazer uma expressão de sofrimento em seu rosto. Algo que convença a quem você está pedindo que a sua vida depende daquilo. Mude também o tom da sua voz, ela está muito forte ao dizer “dá um real, moço”. Ela precisa ser fraca, baixa, se possível tremida e com um “pelamordedeus” no final, para criar empatia. E se a senhora mostrar uma enfermidade, se entrar mancando ou encurvada ou com uma das mãos nas costas, vai até mesmo transmitir a dor aos outros que a observam, e a dor é o principal instrumento para acionar a empatia nos outros. A senhora tem alguma roupa mais velha? Use-a. Tem alguma criança pequena, algum filho ou neto, de preferência de colo? Traga-o junto. E, por favor, não coloque o preço na sua esmola. Se você pedir um real, é tudo o que vai ganhar. Ao contrário, diga um trocado e poderá ganhar muito mais. Eu poderia te dar outra dica infalível, mas somente se a senhora tiver um real para me dar… pois esta não vai sair de graça.
A mulher olhou espantada, mas parece que estava gostando do que o Amaury dizia, e depois de olhar para os lados e ver que ninguém a via, colocou a mão no bolso, retirou uma cédula amassada e entregou. O Amaury a chamou até si e cochichou por alguns instantes em sua orelha, usando as mãos em cone para que eu não ouvisse. Eu observava a expressão no rosto da mulher, que ia mudando de um tom curioso e desconfiado até um de satisfação por saber algo que passou a julgar importantíssimo. Quando ele terminou, ela agradeceu efusivamente o Amaury, chacoalhando as suas mãos em um aperto que mais parecia um golpe de jiu-jitsu. Ela saiu do bar repetindo agradecimentos até desaparecer, quando olhei o Amaury e percebi que aquilo parecia ter sido algo normal, já que voltara para a carne em seu prato.
- Você não tem vergonha em tomar o dinheiro de uma mendiga, Amaury?
- Não, porque se eu não tivesse feito isso ela não teria dado o devido valor à informação que passei. Você já percebeu que todos nós somos assim? Valorizamos mais o que não temos ou o que nos é caro conseguir. Por causa deste real que ela deu ela nunca vai esquecer o que eu disse.
- E o que você cochichou para a velha?
- Você tem um real aí? – concluiu, sorrindo.
Foi quando o meu prato chegou, estranhamente parecido com o do Amaury, e continuamos conversando por um bom tempo, relembrando o passado, ele falando dos seus shows e do meu trabalho. Eu ainda estava na metade da refeição – por causa da luta com a carne que insistia em não ser cortada ou por conversar mais que comer – quando Amaury se levantou dizendo que tinha de ir se preparar para a palestra. Ele estava hospedado no mesmo hotel que eu, e precisava trocar de roupas e encontrar a equipe no salão paroquial para acertar os últimos detalhes, e nos despedimos ali com um “até daqui a pouco”, isso se eu vencesse aquela carne ou se ela me vencesse pelo cansaço.
Ainda tive tempo de voltar ao hotel e tomar um banho antes da hora marcada. Estava ansioso com a palestra do Amaury, pois sabia que ele era excelente ator, e demonstrou muito bem no bar que sabia ensinar até mesmo uma pedinte. Olhei para o folheto e percebi que o preço era apenas cinco reais. Aquilo era algo que eu não entendia: como o Amaury, com excelente potencial, poderia estar fazendo shows tão baratos em lugares tão não convencionais como Apicum-Açu? Ele poderia estar ganhando rios de dinheiro nas capitais, onde nunca ouvi falar do show dele. Era algo que eu precisava perguntar para ele depois do show.
Cinco para as oito e eu estava na fila em frente ao salão paroquial. Parecia que não só eu estava à procura de um passatempo diferente, mas o restante da população também. Com certeza, era um evento diferente e que fazia com que todos, mesmo os que não se interessavam pelo tema, aproveitassem a oportunidade de quebra da rotina de olhar a praça ou a novela. Na entrada, pude ver dois cartazes que reproduziam em tamanho maior o panfleto que o Amaury havia me dado. Um rapaz na porta cobrava o ingresso e, ao entrar, percebi que o salão estava lotado. O palco improvisado tinha alguns refletores e caixas de som, para que o palestrante pudesse ser visto e ouvido por todos.
Depois de quinze minutos de atraso, ou para esperar os retardatários, o show começou. Amaury fez uma entrada rápida, e começou contando uma história que não entendi direito o significado. Depois contou uma piada sem graça. Depois cantou uma música desconhecida e sem ritmo. Percebi que à medida que o show ia transcorrendo que o Amaury não conseguia passar nenhuma lição, emoção, ou até ensinamento a nenhum dos presentes. As pessoas pareciam incomodadas, o show era realmente muito ruim. Alguns cochichavam, outros levantaram e saíram resmungando que aquilo era tempo perdido, mas a maioria permaneceu. Talvez, assim como eu, esperavam uma melhora na qualidade antes do fim. Uma melhora que não veio. A palestra era chata, sem foco ou roteiro, com referências que só o palestrante parecia conhecer e com um punhado de agradecimentos aos patrocinadores. A indignação da plateia era visível. Alguns agora xingavam sem receio de serem ouvidos, e diziam que se tivessem trazido, atirariam tomates e até repolhos no palestrante. Mas Amaury não parecia se importar com isso e continuou a atuação horrorosa. Confesso que eu mesmo fiquei indignado por ter gasto cinco reais para ver aquilo. Eu mesmo poderia fazer um show bem melhor. Eu ouvia alguns ao meu redor falando as mesmas coisas. Foi quando Amaury interrompeu a música e chamou a atenção do público e pedindo desculpas a todos. Parecia ser a conclusão da palestra.
- Senhoras e senhores, todos os presentes, eu quero dizer que sei exatamente como se sentem. Vocês acabaram de assistir o pior show de suas vidas, mas saibam que foi intencional. Ele foi elaborado exatamente assim para que vocês pudessem sentir a raiva e a indignação que agora estão sentindo. Todos estão pensando que poderiam fazer melhor tudo o que eu fiz aqui, e com razão. A grande pergunta é: por que então não o fazem? Por que deixam que outros, piores que vocês, tomem a frente? É esta a mensagem que eu quero passar, vocês não só conseguem fazer melhor que eu, mas DEVEM fazer melhor que eu, que os outros e até melhor que vocês mesmos. Eu não ganho nada com esta palestra, eu vivo de assessoria particular que presto para políticos, empresários e personalidades famosas e ganho muito bem. Eu faço isso por prazer, para motivar os senhores a usar essa raiva e indignação dentro de vocês para mudarem a si mesmos e ao mundo ao seu redor, para serem outros de hoje em diante. Vocês podem atuar como os melhores personagens de suas vidas ou assistir outros tomarem este papel. Mas o meu conselho é que, se vocês perceberem que não são os protagonistas de suas vidas, fiquem indignados, fiquem com raiva, revoltem-se e tomem de volta os papéis que sempre deveriam ser seus. Aqui, hoje, vocês aprenderam a não gastar nem mesmo uma hora de suas vidas com aqueles que são medíocres e espero sinceramente que não o façam nunca mais. Desejo a todos uma boa noite e até mais. Os que desejarem poderão pegar na saída o dinheiro do ingresso com o meu assistente. Adeus.
Tema-citação de Oscar Wilde, "A falsidade é o caminho pelo qual podemos multiplicar a nossa personalidade", proposto no Duelo de Escritores de 11.06.2010.
Brilhante texto! Gostei da surpresa apresentada pelo personagem Amaury. O texto é longo e conseguiu prender a minha atenção do início ao fim. Além da surpresa do Amaury, destaco que a emtrada da pedinte deu um bom ritmo à história.
ResponderExcluirRefletindo: existem muitos Amaurys por aí. Eles ensinam a gente a ser protagonita da nossa própria história. Por outro lado, podem ensinar a ser o que não é, ou seja, usar uma máscara (como o caso da pedinte. Será que é de fato uma pedinte ou alguém que não gosta de trabalhar?).
Faço uma correção no seu texto: nas primeiras linhas do primeiro parágrafo está escrito "na uma pequena" e creio que houve erro de digitação, ou seja, o correto é "numa pequena". Um abraço!
Vi a sua correção. Hehe... Eu também errei na digitação do meu comentário. Em vez de "emtrada", o correto é "entrada".
ResponderExcluirobrigado pela dica, lu. vc foi tão rápida q nem me deu tempo de responder, hehehehe. mas q bom q gostou e espero q continue passeando por aqui.
ResponderExcluir1 abraço