Os coxos dançam sozinhos, de José Prata
Porto Brandão é um cafajeste. Policial corrupto e corruptor que não liga para regras. Não respeita os seus superiores nem os subordinados. Faz o que quer, quando quer e do jeito que lhe convier impulsivamente em cada ocasião. É machista, racista e narcisista. Esbanja seu pseudo conhecimento soltando frases em latim em todas a situações e abusando de produtos de grife americanos que exaltam o american way of life. Humilha a todos ao redor somente para saciar o seu ego e sentir-se superior a todos, e se alguém o confronta, ele encara o desafio seja contra quem for.
Porto Brandão é um cafajeste. Mata prostitutas gordas e loiras de forma cruel, sádica e mesquinha. Assassino vil e calculista, faz questão de deixar uma assinatura pessoal e inconfundível em suas vítimas, que são como troféus para ele. Acredita ser um profissional que está sempre um passo à frente da polícia, mas é surpreendido quando outro assassino passa a mexer em suas vítimas e a alterar as cenas dos crimes tentando incriminá-lo.
Esse é o Brandão, policial e assassino ao mesmo tempo de Os coxos dançam sozinhos, livro do português José Prata. E para aqueles que já vociferam contra o autor desta resenha creditando a ele a culpa por estragar algum mistério essencial da trama, saibam que o autor já revela tal situação tanto na contra-capa do livro quanto no primeiro parágrafo da estória:
Primeiro romance de José Prata, Os coxos dançam sozinhos é um bom livro policial e merece ser lido. Primeiro pela idéia bastante original de começar com a premissa de revelar que o assassino em série e o investigador designado para o caso são a mesma pessoa. E protagonista da estória, narrada em primeira pessoa. Em segundo lugar, pelo tipo nada convencional de Brandão: nada de baixinhos barrigudos com bigodões parecendo aquilo que o imaginário brasileiro a tempos estereotipou como o investigador policial português. Ele faz musculação e adora exibir seus bíceps e tríceps a quem estiver por perto. Da mesma forma com que cospe frases em latim esperando que outros ao redor tenham a obrigação de saber o que significam, exibe seu estilo ora com camisetas apertadas para demonstrar seus músculos ora com sobretudos e óculos que lembram os cops dos filmes americanos. Como geralmente ninguém entende suas citações – cabe aqui lembrar que o latim é considerado uma língua morta e usada hoje, quando muito, no curso de Direito e na missa católica – ou piadas de duplo sentido – é o assassino e tudo o que diz é com humor negro (qualquer semelhança com Dexter não é mera coincidência) – ele humilha, despreza e zomba de seu auxiliar estagiário Alminha, seu boss o Major Alvega ou de qualquer vítima que tenha a infelicidade de cruzar o seu caminho. Mas se o livro todo fosse só isso tenderia a não render uma boa trama. Mas rende, e rende muito.
Acontece algo inusitado na rotina de crimes e investigações de si mesmo com que Brandão não contava. Após cometer os seus crimes, Brandão (o assassino em série) passa cada dia por mais apuros quando alguém acessa as cenas dos crimes e faz modificações nas vítimas, tentando deixar pistas sobre Brandão que ele houvera apagado. O grande mistério é descobrir quem faz isso e por que. Seria um copycat (cópia-gato na versão portuguesa do termo), um imitador de assassinos? Paralelamente, há trechos breves no final dos capítulos – também breves – que mostram a perturbadora infância de Brandão e a sua relação com a mãe que podem justificar a sua personalidade tão dicotômica e perturbada.
O único ponto fraco para os leitores brasileiros é a quantidade enorme de palavras, gírias e expressões portuguesas que não são comuns por aqui nem mesmo nos nossos dicionários. Por causa disso o livro, classificado como divertidíssimo humor negro pelos nossos irmãos portugueses, não causa maiores sorrisos em um brasileiro, provavelmente por diferenças nos estilos de humor apreciados e compreendidos distintamente por cada povo. Mas esses detalhes não chegam a atrapalhar em nada no entendimento da trama. A originalidade, a repulsa pelo protagonista que nos faz torcer contra ele na maior parte do tempo, as lembranças de sua infância como parte de um quebra-cabeça à parte, o final bem ao estilo Agatha Christie amarrado com uma surpresa aos leitores fazem de Os coxos dançam sozinhos uma ótima opção de leitura de fim de semana.
leitura em: Novembro 2007
obra: Os coxos dançam sozinhos, de José Prata
edição: 1ª, Editora Nova Fronteira (2005), 206 pgs
preço: Compare os preços de Os coxos dançam sozinhos no BuscaPé
Porto Brandão é um cafajeste. Mata prostitutas gordas e loiras de forma cruel, sádica e mesquinha. Assassino vil e calculista, faz questão de deixar uma assinatura pessoal e inconfundível em suas vítimas, que são como troféus para ele. Acredita ser um profissional que está sempre um passo à frente da polícia, mas é surpreendido quando outro assassino passa a mexer em suas vítimas e a alterar as cenas dos crimes tentando incriminá-lo.
Esse é o Brandão, policial e assassino ao mesmo tempo de Os coxos dançam sozinhos, livro do português José Prata. E para aqueles que já vociferam contra o autor desta resenha creditando a ele a culpa por estragar algum mistério essencial da trama, saibam que o autor já revela tal situação tanto na contra-capa do livro quanto no primeiro parágrafo da estória:
“Estou no quarto e não estou sozinho. À minha frente, deitada ao comprido, de barriga para baixo, está a velha que matei hoje de manhã. Bem morta, nua de todo, as banhas esparramadas pela alcatifa. Um mimo. O problema foi terem destacado para o caso o inspector Brandão – e caso não saibam o Brandão sou eu, Porto Brandão, prazer em conhecer-vos.”
Primeiro romance de José Prata, Os coxos dançam sozinhos é um bom livro policial e merece ser lido. Primeiro pela idéia bastante original de começar com a premissa de revelar que o assassino em série e o investigador designado para o caso são a mesma pessoa. E protagonista da estória, narrada em primeira pessoa. Em segundo lugar, pelo tipo nada convencional de Brandão: nada de baixinhos barrigudos com bigodões parecendo aquilo que o imaginário brasileiro a tempos estereotipou como o investigador policial português. Ele faz musculação e adora exibir seus bíceps e tríceps a quem estiver por perto. Da mesma forma com que cospe frases em latim esperando que outros ao redor tenham a obrigação de saber o que significam, exibe seu estilo ora com camisetas apertadas para demonstrar seus músculos ora com sobretudos e óculos que lembram os cops dos filmes americanos. Como geralmente ninguém entende suas citações – cabe aqui lembrar que o latim é considerado uma língua morta e usada hoje, quando muito, no curso de Direito e na missa católica – ou piadas de duplo sentido – é o assassino e tudo o que diz é com humor negro (qualquer semelhança com Dexter não é mera coincidência) – ele humilha, despreza e zomba de seu auxiliar estagiário Alminha, seu boss o Major Alvega ou de qualquer vítima que tenha a infelicidade de cruzar o seu caminho. Mas se o livro todo fosse só isso tenderia a não render uma boa trama. Mas rende, e rende muito.
Acontece algo inusitado na rotina de crimes e investigações de si mesmo com que Brandão não contava. Após cometer os seus crimes, Brandão (o assassino em série) passa cada dia por mais apuros quando alguém acessa as cenas dos crimes e faz modificações nas vítimas, tentando deixar pistas sobre Brandão que ele houvera apagado. O grande mistério é descobrir quem faz isso e por que. Seria um copycat (cópia-gato na versão portuguesa do termo), um imitador de assassinos? Paralelamente, há trechos breves no final dos capítulos – também breves – que mostram a perturbadora infância de Brandão e a sua relação com a mãe que podem justificar a sua personalidade tão dicotômica e perturbada.
"- Bom dia Sr. Inspector. A mãezinha, está melhor?
(A mãezinha é um vegetal que eu tenho lá em casa, anda a soro há cinco ou seis anos, desde o Grande Coma. A enfermeira diz que está rija, que se aguenta ainda outros cinco ou seis. Cá por mim por tudo bem, a pensão da Mamã dá-me jeito, os Armani são baratos mas nem tanto…)"
O único ponto fraco para os leitores brasileiros é a quantidade enorme de palavras, gírias e expressões portuguesas que não são comuns por aqui nem mesmo nos nossos dicionários. Por causa disso o livro, classificado como divertidíssimo humor negro pelos nossos irmãos portugueses, não causa maiores sorrisos em um brasileiro, provavelmente por diferenças nos estilos de humor apreciados e compreendidos distintamente por cada povo. Mas esses detalhes não chegam a atrapalhar em nada no entendimento da trama. A originalidade, a repulsa pelo protagonista que nos faz torcer contra ele na maior parte do tempo, as lembranças de sua infância como parte de um quebra-cabeça à parte, o final bem ao estilo Agatha Christie amarrado com uma surpresa aos leitores fazem de Os coxos dançam sozinhos uma ótima opção de leitura de fim de semana.
leitura em: Novembro 2007
obra: Os coxos dançam sozinhos, de José Prata
edição: 1ª, Editora Nova Fronteira (2005), 206 pgs
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