Quando Vier a Primavera, de Alberto Caieiro


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Comentários

  1. Ele é meu heterônimo preferido de Pessoa. Meu poeta mais que tudo, mais amado. Por ele fico sem corpo, deixando só minha alma ouvir seus cantos. É lindo, um sonho. Bem escolhido, Jeff querido.

    Mas vou completar com mais Caeiro:
    (feliz primavera pra ti)

    Verdade, Mentira

    Verdade, mentira, certeza, incerteza...
    Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.
    Estou sentado num degrau alto e tenho as mãos apertadas
    Sobre o mais alto dos joelhos cruzados.
    Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza o que são?
    O cego pára na estrada,
    Desliguei as mãos de cima do joelho
    Verdade mentira, certeza, incerteza são as mesmas?
    Qualquer cousa mudou numa parte da realidade — os meus joelhos
    e as minhas mãos.
    Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?
    O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.
    Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.
    Ser real é isto.

    Beijos...

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  2. não vou escrever porque vou me arrepender (dnv)

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