O melhor de Henry Miller é Anaïs Nin
A única meta de leitura que estipulei para 2012 foi finalizar a leitura da Coleção Biblioteca Folha (2003). No começo do ano faltavam 15 livros dos 30 da coleção. Uma quantidade razoável, se eu não tivesse deixado para lê-los somente nos últimos meses do ano, hehehe. Mas ainda acredito que consiga.
Uma das vantagens de se ler uma coleção de clássicos é a possibilidade de você encontrar um livro ruim reduzir-se exponencialmente. Por exemplo, dos 15 livros que lera da coleção, somente um - O Amante, de Margarite Duras - classifiquei como ruim. Até agora. Pois finalizei ontem a leitura do Trópico de Câncer, de Henry Miller, e não consegui gostar/entender/curtir a proposta. Item obrigatório nas listas dos 100 melhores livros do século XX, arrisco prever que deixará de ser lido paulatinamente pelas próximas gerações. Eu tive que me esforçar muito para não abandonar a leitura. Primeiro, o uso do fluxo de consciência como estilo precisa ser muito bem feito, pois em si já traz algumas dificuldades de acompanhamento na linha de raciocínio. Poucos usam bem este recurso - um destaque para O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger - e digo que Miller não está dentre estes. Um pouco devido ao conteúdo dos textos que ele escreve, misturando autobiografia com as preocupações do personagem vagabundo pseudo intelectual que só pensa/fala em (falta de) comida, (falta de) dinheiro e sexo (ruim). Os pensamentos e acontecimentos narrados são cortados por digressões filosóficas de boteco. Depois de algumas dezenas de páginas vazias o pensamento que me veio à mente foi que todo aquele que desejasse escrever um relato autobiográfico deveria antes fazer uma pesquisa se a sua vida é mais interessante que a dos seus pretensos leitores. A vida do Miller narrada em Trópico de Câncer é de dar dó, não chega nem perto de ser mais interessante que a minha, e olha que não tenho lá uma vida cheia de aventuras. Ou seja, não me cativaram em nada os relatos de pedinte por refeições e moradia em troca de sua superestimada companhia. Talvez interesse os que tenham uma vida monótona e vazia de sentido.
Os defensores do livro poderiam argumentar que ele traça um retrato da sociedade parisiense dos anos 1930. Eu discordo. Ele retrata um grupo dentro da sociedade parisiense dos anos 1930 vista pelos olhos de um escritor vagabundo, de uma forma que não consegui visualizar além da janela do quarto de bordel. Certamente foi a principal influência que levou o brasileiro Reinaldo Moraes a escrever Abacaxi (1981), pois apresenta semelhanças inegáveis, embora os eventos deste passem nos anos 1980: ambos são estrangeiros em Paris vivendo de favor de terceiros, tentando escrever o primeiro livro autobiográfico (metalinguagem) e narrando o que há de mais interessante em suas vidas, o sexo casual e vulgar. Embora também não o tenha considerado como um livro bom, a minha tendência foi gostar mais do brasileiro por trazer expressões e tiradas que acompanharam a minha adolescência. Pode até ser que exista esta mesma correlação do livro do Miller com os leitores da época - como o uso da expressão "Foda-se, Jack!" - mas como são poucos os seus contemporâneos que ainda devem estar vivos hoje, esta tática acaba deixando o livro defasado. Talvez o mesmo aconteça com o Abacaxi daqui há 60 anos.
Para tentar entender/gostar/melhorar o meu conceito do livro, pesquisei sobre o autor e vi que todos os livros que ele escreveu seguem a mesma fórmula: autobiografia + fluxo de consciência + frustrações sexuais. O que me fez decidir a não ler mais nada dele. Se já sei que os outros serão tão deprimentes quanto este, então pra que perder tempo? Pensei cá com os meus botões qual seria o motivo que levou a doida da Anaïs Nin a financiar um livro com tantos defeitos. Aí é que a coisa melhorou um pouco. Provavelmente ela fez só porque era amante dele. Ela mesma critica os defeitos do livro no filme Henry & June, de 1990, homônimo ao livro que Nin escreveu relatando as aventuras amorosas que teve com Miller e sua esposa, June. O filme é interessante por apresentar melhor o contexto da época e lugar em que o livro do Miller foi escrito, mas não o salva. Ao contrário, dá vontade de ler mais coisas de Nin, de conhecer melhor os seus textos, além dos de outro escritor debatido/apreciado por ambos: D. H. Lawrence. Enfim, vou procurar ler algo deles e depois comento a impressão que tive. Até lá, deixo o trailer do filme para os que se interessarem. Ah, o filme traz como bônus uma deliciosa Uma Thurman ainda na flor da idade.
Uma das vantagens de se ler uma coleção de clássicos é a possibilidade de você encontrar um livro ruim reduzir-se exponencialmente. Por exemplo, dos 15 livros que lera da coleção, somente um - O Amante, de Margarite Duras - classifiquei como ruim. Até agora. Pois finalizei ontem a leitura do Trópico de Câncer, de Henry Miller, e não consegui gostar/entender/curtir a proposta. Item obrigatório nas listas dos 100 melhores livros do século XX, arrisco prever que deixará de ser lido paulatinamente pelas próximas gerações. Eu tive que me esforçar muito para não abandonar a leitura. Primeiro, o uso do fluxo de consciência como estilo precisa ser muito bem feito, pois em si já traz algumas dificuldades de acompanhamento na linha de raciocínio. Poucos usam bem este recurso - um destaque para O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger - e digo que Miller não está dentre estes. Um pouco devido ao conteúdo dos textos que ele escreve, misturando autobiografia com as preocupações do personagem vagabundo pseudo intelectual que só pensa/fala em (falta de) comida, (falta de) dinheiro e sexo (ruim). Os pensamentos e acontecimentos narrados são cortados por digressões filosóficas de boteco. Depois de algumas dezenas de páginas vazias o pensamento que me veio à mente foi que todo aquele que desejasse escrever um relato autobiográfico deveria antes fazer uma pesquisa se a sua vida é mais interessante que a dos seus pretensos leitores. A vida do Miller narrada em Trópico de Câncer é de dar dó, não chega nem perto de ser mais interessante que a minha, e olha que não tenho lá uma vida cheia de aventuras. Ou seja, não me cativaram em nada os relatos de pedinte por refeições e moradia em troca de sua superestimada companhia. Talvez interesse os que tenham uma vida monótona e vazia de sentido.
Os defensores do livro poderiam argumentar que ele traça um retrato da sociedade parisiense dos anos 1930. Eu discordo. Ele retrata um grupo dentro da sociedade parisiense dos anos 1930 vista pelos olhos de um escritor vagabundo, de uma forma que não consegui visualizar além da janela do quarto de bordel. Certamente foi a principal influência que levou o brasileiro Reinaldo Moraes a escrever Abacaxi (1981), pois apresenta semelhanças inegáveis, embora os eventos deste passem nos anos 1980: ambos são estrangeiros em Paris vivendo de favor de terceiros, tentando escrever o primeiro livro autobiográfico (metalinguagem) e narrando o que há de mais interessante em suas vidas, o sexo casual e vulgar. Embora também não o tenha considerado como um livro bom, a minha tendência foi gostar mais do brasileiro por trazer expressões e tiradas que acompanharam a minha adolescência. Pode até ser que exista esta mesma correlação do livro do Miller com os leitores da época - como o uso da expressão "Foda-se, Jack!" - mas como são poucos os seus contemporâneos que ainda devem estar vivos hoje, esta tática acaba deixando o livro defasado. Talvez o mesmo aconteça com o Abacaxi daqui há 60 anos.
Para tentar entender/gostar/melhorar o meu conceito do livro, pesquisei sobre o autor e vi que todos os livros que ele escreveu seguem a mesma fórmula: autobiografia + fluxo de consciência + frustrações sexuais. O que me fez decidir a não ler mais nada dele. Se já sei que os outros serão tão deprimentes quanto este, então pra que perder tempo? Pensei cá com os meus botões qual seria o motivo que levou a doida da Anaïs Nin a financiar um livro com tantos defeitos. Aí é que a coisa melhorou um pouco. Provavelmente ela fez só porque era amante dele. Ela mesma critica os defeitos do livro no filme Henry & June, de 1990, homônimo ao livro que Nin escreveu relatando as aventuras amorosas que teve com Miller e sua esposa, June. O filme é interessante por apresentar melhor o contexto da época e lugar em que o livro do Miller foi escrito, mas não o salva. Ao contrário, dá vontade de ler mais coisas de Nin, de conhecer melhor os seus textos, além dos de outro escritor debatido/apreciado por ambos: D. H. Lawrence. Enfim, vou procurar ler algo deles e depois comento a impressão que tive. Até lá, deixo o trailer do filme para os que se interessarem. Ah, o filme traz como bônus uma deliciosa Uma Thurman ainda na flor da idade.
Nunca li nada do Henry, mas gosto da anais Nin. Eu sempre tive vontade de ler os livros dele por causa dela, mas diminuiu um pouco depois de ler seu texto agora.
ResponderExcluirCarissa vieira
http://artearoundtheworld.blogspot.com
poizé, carissa. mas julgo q foi 1 resultado bom surgido d uma leitura ruim: ficar com vontade d conhecer outros escritores.
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