La Maison Dieu

Um conto antigo que achei ao limpar os rascunhos da minha conta de email hoje. Não lembro porque o escrevi nem a motivação. Não  foi revisado.
Na parte mais alta do castelo, há uma sala com uma mesinha ao centro. Em cima da mesa, um tabuleiro monocromático apresenta algumas peças caídas de ambos os lados. Uma jovem o observa em silêncio. Sentada, mãos sobre os joelhos trêmulos, cabelos encobrindo-lhe sobre a face, respiração irregular, lágrimas escorrendo involuntárias. Vez por outra, ela limpa o nariz com a palma da mão e tenta olhar o jogo turvado por fios dourados e gotículas de água. O que olha lhe causa dor. Mental. Física. Emocional. Mas ela não vê apenas peças estáticas à sua frente. Sim, ela vê as peças à sua frente, mas vai além. Em sua imaginação, peças criam vida e movem-se sozinhas em uma lógica matemática incontestável. Para cada movimento um contra movimento. Para cada contra movimento um contra contra movimento. As jogadas são antecipadas três, cinco, dez casas, até a exaustão. Sua lógica entende, mas ela não aceita como todas as opções terminam no mesmo ponto. Ela se recusa a aceitar que perdeu. Se recusa a aceitar o que perdeu. Em sua memória, ainda sente o riso alto e a voz grave lhe subjugando, agora você é minha, princesa. Conduzida em estupor para o leito, fixa o olhar no tabuleiro recordando as jogadas que a levaram até ali. Tentar refazer os passos e descobrir aonde errou a fazem esquecer-se da dor que o homem passa a infringir ao seu corpo virginal. Era impossível perder. Ela não perdera.

Aliás, quem é o jogo e quem é o jogador?

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