Entre no vazio

Ok, eu não conhecia Gaspar Noe. My fault. Mas assisti esta semana o Enter the Void (Soudain Le Vide, 2009), de direção e roteiro dele. Uma tradução literal para o português seria Entre no Vazio. E será por causa deste filme é que irei assistir a todos os outros que ele dirigiu. Isso porque o filme mexeu comigo de uma forma que poucos filmes souberam fazer. A câmera funciona algumas vezes como personagem. Ou acompanha as cenas do ângulo superior lembrando um pouco Dogville, de Lars von Trier. A referência não é gratuita, pois os temas abordados por ambos diretores também são fortes, complexos e questionadores. Mas Noe, um pouco mais que von Trier, choca visualmente os dispostos a experimentarem uma viagem além da visão e da audição. Ele nos proporciona uma experiência sensorial. Às vezes repugnante, pois mescla violência e sexo não convencional em cenas explícitas. Tanto é que, além de eu não recomendar o filme para os politicamente corretos, também não indicaria aos que sofrem de vertigem, epilepsia ou labirintite (veja os créditos iniciais do filme e saiba o porquê). O roteiro é simplório: um rapaz traficante que mora com a irmã stripper em Tóquio é morto por policiais. Não daria nem mesmo um capítulo de novela da Globo, quanto mais um bom capítulo de novela da Globo. Mas a forma com que a história é mostrada, mesclando temas tão distantes como alucinações causadas pelas drogas, viagens astrais e reencarnação, é o diferencial do filme. As sequências entre cenas, e as coincidências entre passado, presente e futuro são muito criativas. Mesmo que depois de uma hora o uso repetitivo da câmera fique um pouco cansativo, vale a pena ver até o fim, pois é um filme feito para questionar condutas e estéticas. Para se divulgar o Bardo Thodol, o Livro Tibetano dos Mortos, em um contexto contemporâneo. Para se viajar sem estar chapado. Ah, e fica uma dica final: assista o filme no escuro.

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