De um lado, milhares de roupas brancas vestindo pessoas, cartazes gritando frases de efeito e indignação contra a surdez da corrupção e do descaso. Do outro, fardas cinzas e negras mal remuneradas, mal treinadas, mal-amadas, cumprindo ordens, aguardando o inevitável. No centro, lentes e flashes capturando e transmitindo em tempo real ações e reações excessivas. O momento é tênue. Um grupo, mas apenas um pequeno grupo – expressão que se repetiria à exaustão nas próximas semanas, locais e mídias – não aceita o não da parte contrária. A violência é moeda de troca; paga à vista e com juros acumulados. Começa a guerrilha. As linhas divisórias se confundem. Manifestantes atacam policiais. Policiais, repórteres. Repórteres, manifestantes. Manifestantes, repórteres. Repórteres, policiais. Policiais, manifestantes. Manifestantes, manifestantes. A cena congela na imagem do policial hostilizando o cinegrafista. Ninguém corre. Nada explode. Ninguém bate, apanha, luta, grita, ordena, chora, tos...