Filha Amada, Mãe Preocupada

Você nasceu à zero hora do dia vinte e um de abril de 1960, em um parto prematuro, cercado de problemas de gestação e cuidados. Mas quando todos viram que você passava bem, fizeram festas pelas ruas, e alguns opinaram que Esperança deveria ser o teu nome do meio. Ficou como uma espécie de apelido carinhoso.

Diferente das suas irmãs mais velhas – uma baiana e outra carioca – você veio ao mundo em um lugar desconhecido, porém aconchegante e especialmente preparado para te receber. E você não foi uma daquelas gravidezes indesejadas ou não planejadas; estava nos sonhos de seus pais há décadas.

Mãe, você teve uma, mas pai foram vários. Porque os homens são assim, vêm e vão, mas o amor que cada um deles sentiu por você foi o mesmo, considerando a sua preciosa princesinha. Só o fato de alguns destes pais terem sido acusados de gastarem mais dinheiro do que dispunham é uma prova do quanto te queriam bem.

Hoje qualquer um reconhece que contratar um arquiteto famoso para decorar o seu quarto e chamar trabalhadores de todo o país para a construção foi essencial para a sua infância feliz. Todos queriam te visitar, você: uma novidade, uma promessa. Tal qual o messias, recebeu a visita de embaixadores de vários países, que lhe renderam homenagens.

Mas você cresceu. Teve uma infância feliz, uma adolescência manchada pela ditadura e entrou na idade adulta sonhando com um futuro melhor, para você e sua família.

Hoje, aos 53 anos, você é uma senhora tão bem conservada que parece ter menos. Devem ser os tratamentos de beleza a que se submete através dos anos. Você é vaidosa. Mas preocupada. Muitos dos seus filhos – naturais ou adotados – entristecem o seu coração de mãe. São mentirosos e desonestos que trouxeram vergonha e má fama ao seu nome. Os que têm capacidade de ajudar os irmãos com dificuldades, viram-lhes as costas. Roubam o pouco que você havia lhes dado.

Mas o seu coração de mãe é paciente. Sabe que seus filhos irão aprender a serem melhores algum dia. Você carrega fé e esperança dentro do peito. O seu nome é Brasil, Lia Brasil.

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