Querido e Devotado Dexter, de Jeff Lindsay

Este livro foi gentilmente cedido e enviado pelo autor/editora para ser resenhado. Fica, assim, automaticamente sujeito à Política sobre Resenhas Solicitadas deste blog. O texto abaixo pode conter revelações sobre o enredo (spoilers).
Dexter está de volta, com as facas e o humor negro mais afiados que nunca. E isto é um fato: qualquer leitor que tenha lido o primeiro livro da série, Dexter: a mão esquerda de Deus (Planeta, 2008) percebe a nítida melhora do personagem e da trama no segundo volume, Querido e Devotado Dexter (Planeta, 2009), lançado há alguns meses no Brasil. Jeff Lindsay consegue deixar o seu assassino favorito mais sarcástico que o Dr. House e Stewe (da série Uma família da pesada) juntos, e até mais sarcástico – e sombrio – que o Dexter da tevê. Parece que suavizaram o personagem adaptado para a telinha, assim como os seus arquiinimigos, para não chocar tanto os politicamente corretos.

Nesta continuação, Dex se vê interpretando um papel com o qual não está acostumado: agora ele é a caça. De dois caçadores experientes na arte de matar. O sargento Doakes o segue por todos os lugares, tentando provar as suas suspeitas levantadas desde o final do primeiro livro. E, tanto Doakes quanto Dexter sabem reconhecer os seus pares, percebem o instinto assassino no olhar. Essa situação força Dexter a assumir uma postura “normal”, deixando de lado seu passatempo noturno favorito e ficando mais tempo na casa da Rita, seus filhos Astor e Cody, conhecendo a maravilha moderna (norte-americana?) que é beber cerveja light em frente a tevê. Uma dose de calmante cavalar para o Passageiro das Trevas. Além disso, surge um novo assassino em Miami, o famigerado Doutor Danco (um vilão bem mais perigoso no livro), que busca vingança em antigos companheiros de guerra. Dexter é forçado a persegui-lo e se vê enfrentando um adversário mais enigmático e bem treinado que ele. O mais importante não é quem sairá ileso (Dexter, Doakes ou Danco) deste duelo triplo com altas doses de adrenalina, insânia e testosterona, pois os outros dois livros sequenciais do perito em borrifos (com sede) de sangue já revelam muito sobre quem sobrevive. Mas o como e o porquê Dexter entrar e sair de tantas enrascadas é o charme que só Lindsay teve a ousadia e imaginação de criar.

Um dos principais atrativos do livro são as tiradas espirituosas, sarcásticas e carregadas de humor negro de Dexter frente a situações comuns e outras não tão comuns. Como na cena em que os paramédicos chegam para socorrer uma vítima do Dr. Danco e conversam com Dexter:
- Há lugar para mais um? – perguntei. Não vai ocupar muito espaço, mas vai precisar de forte sedação.
- Em que estado ele está? – perguntou o cara de cabelo espetado.
Era uma boa pergunta para alguém da sua profissão, mas as respostas que me ocorreram eram um tanto impertinentes, de modo que falei apenas:
- Acho que você também vai precisar de forte sedação.
Aforismos impiedosamente mordazes são com ele. Ninguém escapa: policiais, gordas, motoristas, cadáveres, assassinos e até ele mesmo. Em média, são três comentários espirituosos por página. O segundo livro também inova ao mostrar Dexter chamando-se na terceira pessoa do singular com adjetivos para demonstrar como está o seu estado de espírito (lembre-se que ele é um sociopata sem emoções ou remorso): Dexter Desastrado, Bom e Submisso Dexter, Dexter Domesticado, Querido e Devotado Dexter, sendo este último, o título escolhido para o livro pelos leitores em um concurso na internet.

Outro atrativo, este agora para os seguidores da série Dexter (Showtime, 2006), é que a história do segundo livro é diferente da segunda temporada na tevê. Ambas são melhores que as primeiras, mas tomam rumos diferentes a partir da única mudança que ocorre entre o final do primeiro livro e o final da primeira temporada. Na tevê, o foco inevitavelmente recai sobre Lila, sem dúvida uma das vilãs mais "quentes" e loucas que já apareceram, e não sei se ela aparece nos próximos livros. Já no segundo livro, quem rouba a cena, depois de Dexter, é claro, é o Dr. Danco. Com importante participação do sargento Doakes. E como a série já está na quarta temporada e o segundo livro só agora chega às livrarias brasileiras, consegue-se perceber quais sub-tramas foram retiradas de qual livro. Algumas delas são dos primeiros livros mas estão recém aparecendo nas telas, na temporada atual, em contextos diferentes.

A editora somente pecou neste volume na parte de revisão, deixando passar um “imdeiato” ao invés de imediato (pg. 27), um “linhas obrigações” ao invés de minhas obrigações (pg. 134) e um erro bizarro na pg. 71, onde aparece um número e pula-se 3 linhas no texto sem qualquer justificativa:
"O coronel abriu a boca, e Doakes ergueu as sobrancelhas. Após pensar um pouco, vendo o rosto sob aquelas sobrancelhas, o coronel-37



-comandante decidiu desistir.
O capitão Matthews pigarreou, numa tentativa de recuperar o controle."
Fica o aviso para uma revisão mais apurada na próxima tiragem da edição e uma maior atenção ao lançarem o terceiro livro da série que, ao que tudo indica, deve pintar no Brasil em 2010. Mesmo assim, tais detalhes gramaticais não chegam a estragar a maravilha que é entrar na mente perturbada e afiada de um serial-killer. Querido e devotado, mas mesmo assim, um serial-killer.

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Veja também:
- Resenha de Dexter: a mão esquerda de Deus, de Jeff Lindsay;

Tema de abertura da série:

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