Parousia
A janela abre preenchendo o escritório com a brisa fria que anuncia o fim do outono. Pelo beiral, passam primeiro alguns gemidos, uma pequena mão e, por fim, uma cabeça curiosa. Que olha com cuidado para os móveis da sala vazia, mas o que mais importa não vê. Com uma agilidade ousada que só os jovens ousam possui, pula no recinto, bate as mãos na roupa e volta-se para a janela.
Me dá a sua mão, Ashley, deixa eu te ajudar.
A segunda intrusa solta um pequeno ai ao entrar: esfolou o joelho na escalada e um pequeno traço vermelho tatua a pele rosada. Toda aventura cobra o seu preço em dor.
O que fazemos agora, ela pergunta.
Procure algo que possa ser útil, mas por favor não faça barulho.
Estou com medo, Jhonny.
Eu também, irmãzinha, mas precisamos descobrir a verdade.
As crianças iniciam a busca – ele nos papéis espalhados pela escrivaninha, ela nos objetos postos na mesa em frente aos sofás – até Ashley se distrair ao encontrar uma fruta. A pequena estava com fome e não resiste à tentação de experimentar o sabor de algo que não devia. Enquanto isso, Jhonatan força uma gaveta. Deve estar aqui, murmura. Trancada. Mas o garoto sabe aonde a chave está. Corre até a estante e ergue a estatueta de cobra armando o bote. Retorna com a chave à sua busca. Ao abrir a gaveta, seus olhos brilham ao encontrar as cartas enviadas pelo pai. São várias páginas, que ele deposita cuidadosamente sobre a escrivaninha. A irmã, com mãos e boca lambuzadas pela lembrança de algo que já não existe, aproxima-se.
É o que estou pensando que é?
Sim, nós encontramos.
Jhonatan lê uma das cartas e depois passa para a irmã. Muita coisa havia escutado antes, mas de outra forma. Acabam ficando mais tempo do que deviam e só percebem o erro quando ouvem o barulho das chaves e a porta se abrir. Uma mulher de vestido e olhos negros e rígidos e longos adentra o cômodo.
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde vocês viriam aqui, mesmo eu tendo proibido veementemente. Estão cientes que serão severamente punidos por esta atitude? Eu não perdoarei nenhum delito desta natureza.
Ashley abaixa a cabeça, coçando os olhos. Jhonatan não.
Senhora Margareth, acabei de ler coisas bem interessantes que nunca nos contou antes.
Vocês não tinham o direito de entrar aqui, ela responde impassível, trincando os dentes.
Nos explique porque não, já que este é o escritório de nosso pai e a senhora apenas trabalha para ele.
Ele não lhes deu permissão e, enquanto estiver fora, eu sou a única autorizada a ler as cartas.
Mas ele escreveu as cartas para nós e não para a senhora. E a senhora as está usando para o seu proveito pessoal, para controlar a mim e minha irmã, para se apropriar dos nossos bens e para limitar as nossas ações, pensamentos e sentimentos. Eu já desconfiava que algo estava errado, mas agora tenho certeza.
A mulher suspira fundo e dirige-se pausadamente ao sofá.
Vocês dois são muito novos para entender e eu tive de fazer para o bem de vocês. Crianças, sentem-se aqui, por favor, pois tenho algo a contar que temo não irão gostar.
O tempo esquenta o suficiente para que alguns raios de sol ultrapassarem as janelas e encontrem três pessoas sentadas em silêncio. A menina chora. O garoto olha para os papéis com um misto de dúvida e raiva estampados no rosto.
Foi a senhora quem as escreveu? Por que?
Sim, ela responde, fui eu. Precisava de alguma ferramenta para vocês confiarem em mim. Para me obedecerem. E para terem um pouco de esperança. Posso ter me aproveitado um pouco da situação, confesso e peço que me perdoem, mas o fiz pensando no melhor modo de administrar esta casa.
Quer dizer que papai não voltará mais? pergunta a garota, fungando.
Sinceramente, minha criança, eu não faço ideia, mas não era como se ele estivesse aqui conosco quando eu lia as cartas para vocês? Me digam o que vocês preferem que eu faça de hoje em diante: devo abandonar as cartas e o fingimento ou continuamos como sempre foi e esquecemos tudo o que aconteceu nesta tarde?
Os irmãos se entreolham e se abraçam forte. Juntos, respondem que o melhor é que tudo continue como estava.
Me dá a sua mão, Ashley, deixa eu te ajudar.
A segunda intrusa solta um pequeno ai ao entrar: esfolou o joelho na escalada e um pequeno traço vermelho tatua a pele rosada. Toda aventura cobra o seu preço em dor.
O que fazemos agora, ela pergunta.
Procure algo que possa ser útil, mas por favor não faça barulho.
Estou com medo, Jhonny.
Eu também, irmãzinha, mas precisamos descobrir a verdade.
As crianças iniciam a busca – ele nos papéis espalhados pela escrivaninha, ela nos objetos postos na mesa em frente aos sofás – até Ashley se distrair ao encontrar uma fruta. A pequena estava com fome e não resiste à tentação de experimentar o sabor de algo que não devia. Enquanto isso, Jhonatan força uma gaveta. Deve estar aqui, murmura. Trancada. Mas o garoto sabe aonde a chave está. Corre até a estante e ergue a estatueta de cobra armando o bote. Retorna com a chave à sua busca. Ao abrir a gaveta, seus olhos brilham ao encontrar as cartas enviadas pelo pai. São várias páginas, que ele deposita cuidadosamente sobre a escrivaninha. A irmã, com mãos e boca lambuzadas pela lembrança de algo que já não existe, aproxima-se.
É o que estou pensando que é?
Sim, nós encontramos.
Jhonatan lê uma das cartas e depois passa para a irmã. Muita coisa havia escutado antes, mas de outra forma. Acabam ficando mais tempo do que deviam e só percebem o erro quando ouvem o barulho das chaves e a porta se abrir. Uma mulher de vestido e olhos negros e rígidos e longos adentra o cômodo.
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde vocês viriam aqui, mesmo eu tendo proibido veementemente. Estão cientes que serão severamente punidos por esta atitude? Eu não perdoarei nenhum delito desta natureza.
Ashley abaixa a cabeça, coçando os olhos. Jhonatan não.
Senhora Margareth, acabei de ler coisas bem interessantes que nunca nos contou antes.
Vocês não tinham o direito de entrar aqui, ela responde impassível, trincando os dentes.
Nos explique porque não, já que este é o escritório de nosso pai e a senhora apenas trabalha para ele.
Ele não lhes deu permissão e, enquanto estiver fora, eu sou a única autorizada a ler as cartas.
Mas ele escreveu as cartas para nós e não para a senhora. E a senhora as está usando para o seu proveito pessoal, para controlar a mim e minha irmã, para se apropriar dos nossos bens e para limitar as nossas ações, pensamentos e sentimentos. Eu já desconfiava que algo estava errado, mas agora tenho certeza.
A mulher suspira fundo e dirige-se pausadamente ao sofá.
Vocês dois são muito novos para entender e eu tive de fazer para o bem de vocês. Crianças, sentem-se aqui, por favor, pois tenho algo a contar que temo não irão gostar.
O tempo esquenta o suficiente para que alguns raios de sol ultrapassarem as janelas e encontrem três pessoas sentadas em silêncio. A menina chora. O garoto olha para os papéis com um misto de dúvida e raiva estampados no rosto.
Foi a senhora quem as escreveu? Por que?
Sim, ela responde, fui eu. Precisava de alguma ferramenta para vocês confiarem em mim. Para me obedecerem. E para terem um pouco de esperança. Posso ter me aproveitado um pouco da situação, confesso e peço que me perdoem, mas o fiz pensando no melhor modo de administrar esta casa.
Quer dizer que papai não voltará mais? pergunta a garota, fungando.
Sinceramente, minha criança, eu não faço ideia, mas não era como se ele estivesse aqui conosco quando eu lia as cartas para vocês? Me digam o que vocês preferem que eu faça de hoje em diante: devo abandonar as cartas e o fingimento ou continuamos como sempre foi e esquecemos tudo o que aconteceu nesta tarde?
Os irmãos se entreolham e se abraçam forte. Juntos, respondem que o melhor é que tudo continue como estava.
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