Sublimação
O movimento no pequeno café na esquina revelava que mais um dia de trabalho estava começando. Manhã de quinta-feira. Dos clientes que por ali passavam apressados, destoava a imagem semi-estática de três mulheres sentadas na mesma mesa, alheias ao mundo ao redor. Os seus movimentos eram lentos, quase premeditados. Os olhares pouco se cruzavam, mas mesmo assim diziam muito, como em um encontro de telepatas ou de velhas conhecidas. Alguém que não tivesse atrasado para o serviço e pudesse observá-las por um tempo poderia afirmar que não, elas não faziam parte da decoração. A primeira mulher, loira, com cerca de trinta e cinco anos, mas que a maquiagem carregada fazia parecer mais nova, usava um sobretudo bege e um lenço de seda no pescoço que lembrava uma onça pintada que não destoavam do leve frio matinal. Era a mais velha das três, embora a sua postura a habilitasse a competir de igual com as outras duas. A quantidade de jóias que usava faria qualquer um pensar que era rica. Olhava par...