Falta Algo (texto sem a letra e)
Quando Antônio acordou, o sol abrasador ainda brilhava alto, transformando o rosto do rapaz numa mistura suada, cansada, intoxicada, mas com uma calma filosófica ilimitada. Piscou alguns minutos, não poucos, só para animar abrir os olhos. A sobra da baba dura no canto da boca, o vômito no chão, indicavam o total abuso do minibar do tio, localizado na sala próxima ao quarto. Na sala, não havia viva alma. As garrafas vazias jogadas no chão davam sinais da folia alcoólica ocorrida poucas horas atrás. Orgia? Briga? Tomara! Sozinho, vasculhou por pistas, algum fato ou situação imaginários, contudo nada achou. As portas do passado continuavam trancadas, obscuras, sigilosas. Não ajudavam nada a sua busca a contínua dor craniana, a indisposição do fígado, a fadiga fora do comum, o cansaço físico no corpo todo. O conjunto da obra não inspirava uma boa suposição dos fatos ocorridos. Haviam participado da farra Antônio, o primo, uma moça, ou duas, ou quatro, a amiga Káthia – Kathiaça – com as outras vodca, maconha, cocaína. Viu num copo algo similar ao colorido do absinto. Ok, tudo batia. Farra. Amigos. Garotas. Só não batia o sumiço do povo todo. Olhou a sala, a cozinha, os quartos, o quintal, por fim, andou cômodo por cômodo. Nada. Tudo vazio.
Mas ainda faltava o sótão. Abriu a porta. Subiu vagaroso passo a passo. Ligou a luz. Viu, mas não confiou nos próprios olhos. Todos mortos, assassinados. O primo. As duas garotas. Aspirava o farto odor dos corpos mutilados, distribuídos nos quatro cantos da alcova. Antônio paralisou, mas notou o pulmão ganhando um ritmo rápido, ansioso. O coração só faltava parar, tamanha carga suportava acima do normal. Daí notou o sorriso gravado no rosto irradiado no vidro na fachada oposta. Antônio arfava, sufocado, com aquilo tudo. A obra-prima da sua vida. Mas obra-prima final ou inicial? Tanto faz. Achara o motivo para subsistir, para saciar sua conduta sórdida. A vida agora havia dado um propósito maior a Antônio.
Quando Antônio acordou, o sol abrasador ainda brilhava alto, transformando o rosto do rapaz numa mistura suada, cansada, intoxicada, mas com uma calma filosófica ilimitada.
Mas ainda faltava o sótão. Abriu a porta. Subiu vagaroso passo a passo. Ligou a luz. Viu, mas não confiou nos próprios olhos. Todos mortos, assassinados. O primo. As duas garotas. Aspirava o farto odor dos corpos mutilados, distribuídos nos quatro cantos da alcova. Antônio paralisou, mas notou o pulmão ganhando um ritmo rápido, ansioso. O coração só faltava parar, tamanha carga suportava acima do normal. Daí notou o sorriso gravado no rosto irradiado no vidro na fachada oposta. Antônio arfava, sufocado, com aquilo tudo. A obra-prima da sua vida. Mas obra-prima final ou inicial? Tanto faz. Achara o motivo para subsistir, para saciar sua conduta sórdida. A vida agora havia dado um propósito maior a Antônio.
Quando Antônio acordou, o sol abrasador ainda brilhava alto, transformando o rosto do rapaz numa mistura suada, cansada, intoxicada, mas com uma calma filosófica ilimitada.
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